
Um caso envolvendo religião, artes marciais e agressão durante uma missa gerou indignação e levou à abertura de investigação policial no interior de São Paulo. O padre católico João José Bezerra, que também é lutador faixa-preta de jiu-jitsu, foi denunciado por agredir uma idosa de 62 anos durante uma celebração religiosa em São Manuel, a cerca de 280 km da capital paulista.

Segundo o boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil, a mulher participava de uma missa da novena de São Miguel Arcanjo, quando foi supostamente submetida a uma sessão de exorcismo não autorizada conduzida pelo religioso. A celebração aconteceu na condição de “concelebrante convidado”, e o padre se apresentava como exorcista.
Durante o ritual, a idosa teria entrado em estado de inconsciência, momento em que o padre a agrediu com tapas no rosto, puxões de cabelo e empurrões. Ela foi socorrida e encaminhada à Santa Casa de São Manuel, onde recebeu atendimento médico. O exame apontou hematomas na cabeça, rosto e ombro.
Segundo testemunhas e relatos registrados pela polícia, fiéis presentes na igreja tentaram intervir e conter o padre, que, mesmo assim, seguiu com a celebração após a agressão. A mulher foi retirada do local e encaminhada ao hospital, acompanhada da irmã, que também foi ouvida pela polícia.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso foi encaminhado ao Juizado Especial Criminal, após a Delegacia Seccional de Botucatu concluir a apuração. A investigação ouviu o suspeito, testemunhas e analisou imagens da celebração. O caso foi classificado como lesão corporal de natureza leve. Até o momento, o Judiciário não se pronunciou.

A Arquidiocese de Botucatu, responsável pela região onde ocorreu a agressão, afirmou que afastou o padre João José Bezerra de todas as funções clericais e instaurou um processo canônico interno para apuração dos fatos. Em nota oficial, a instituição religiosa disse que “lamenta profundamente o ocorrido” e expressou solidariedade à vítima e seus familiares.
A arquidiocese também esclareceu que não possui nenhum padre oficialmente designado como exorcista, e que esse tipo de prática só pode ser realizado com autorização expressa do bispo, conforme as normas da Igreja Católica.
“Situações de violência de qualquer natureza são absolutamente incompatíveis com a missão da Igreja e com o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”, afirmou o comunicado.
A Arquidiocese informou ainda que está colaborando com as autoridades policiais e judiciárias para a apuração da verdade real e reforçou seu compromisso com a dignidade humana.
Ordenado sacerdote há 17 anos, o padre João José Bezerra atuava como vigário paroquial do Santuário de Santa Terezinha, em Cerqueira César, município que também integra a Arquidiocese de Botucatu.
Fora do altar, o padre ganhou notoriedade por sua atuação como atleta de jiu-jitsu. Em 2023, ele foi vice-campeão mundial na faixa marrom master 4 (até 88 kg) pela Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo (CBJJE), em competição realizada no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Com o resultado, foi promovido à faixa preta na modalidade.
A prática esportiva, no entanto, agora contrasta com a acusação de ter usado força física contra uma idosa dentro de um espaço religioso. A situação ganhou repercussão e levanta questionamentos sobre os limites das práticas religiosas, especialmente quando associadas a possíveis abusos ou violência.
