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TENTATIVA DE FEMINICÍDIO

Porteiro chama polícia e impede feminicídio em Natal após agressor desferir 60 socos na namorada

Igor Cabral foi preso em flagrante por tentativa de feminicídio dentro de elevador; vítima passou por cirurgia após agressões

2 agosto 2025 - 06h50Redação O Estado de S. Paulo
Antes do escândalo, Igor Eduardo Pereira Cabral, de 29 anos, ficou conhecido por seu desempenho nas quadras.
Antes do escândalo, Igor Eduardo Pereira Cabral, de 29 anos, ficou conhecido por seu desempenho nas quadras. - Foto: Reprodução

Graças à ação rápida do porteiro Manoel Anésio, um caso de tentativa de feminicídio não terminou em tragédia no último sábado (26), em um condomínio no bairro de Ponta Negra, zona sul de Natal, no Rio Grande do Norte. O estudante e ex-jogador de basquete Igor Cabral foi preso em flagrante após agredir brutalmente sua namorada, desferindo mais de 60 socos contra o rosto da vítima dentro de um elevador.

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As imagens de violência extrema, registradas pelas câmeras de segurança do condomínio, mostram a sequência de agressões. Foi ao observar essas cenas em tempo real que o porteiro decidiu agir imediatamente. “Ele estava dando soco nela e estava em cima, mas não dava para ver que ela estava embaixo. Mas, quando ela levantou, deu para ver a cara ensanguentada. Aí, abriu o elevador e ela saiu”, contou Anésio em entrevista à InterTV Cabugi, afiliada da TV Globo. “Foi de imediato, eu chamei a polícia. Rapidamente chegou e, graças a Deus, levaram ele.”

A mulher agredida sofreu diversas fraturas no rosto e foi hospitalizada logo após o ocorrido. Devido à gravidade das lesões, ela passou por procedimento cirúrgico nesta sexta-feira (1º) e segue em recuperação. Inicialmente, por não conseguir falar, precisou prestar depoimento à polícia por meio de bilhetes escritos.

O caso chocou moradores do condomínio e gerou comoção nas redes sociais após a divulgação das imagens das câmeras internas. “Nunca tinha visto esse tipo de coisa”, relatou o porteiro. “Acho que qualquer um que estivesse aqui no meu lugar faria a mesma coisa”, completou.

De acordo com as investigações, a motivação para o crime teria sido uma crise de ciúmes. Igor Cabral teria encontrado mensagens no celular da namorada e reagido de forma violenta, jogando o aparelho da vítima na piscina do condomínio. Em seguida, ele subiu até o apartamento dela para pegar seus pertences. A vítima, preocupada com a possibilidade de violência, optou por subir em um elevador separado e permanecer dentro dele, já que os corredores do andar não possuem câmeras.

Foi nesse momento que o agressor encontrou a jovem no elevador e iniciou as agressões. Os golpes — mais de 60 socos no rosto — duraram cerca de dois minutos. A brutalidade das imagens chocou até mesmo os policiais que atenderam a ocorrência. Moradores do prédio intervieram e conseguiram conter Cabral até a chegada da polícia, que efetuou a prisão em flagrante.

Após ser detido, Igor Cabral alegou que sofreu um “surto claustrofóbico” no momento do ataque, justificativa que não convenceu as autoridades. Ele foi encaminhado inicialmente para o Centro de Recebimento e Triagem (CRT), em Parnamirim — considerado a porta de entrada do sistema penitenciário no estado — mas, por questões de segurança, foi transferido para a Cadeia Pública Dinorá Sinas, em Ceará-Mirim, na Grande Natal.

A prisão preventiva foi decretada pela Justiça, e a defesa do acusado afirmou que ele está “à disposição das autoridades”. A investigação segue sob responsabilidade da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (DEAM).

A ação do porteiro Manoel Anésio foi amplamente elogiada por entidades de defesa dos direitos das mulheres e também pela população nas redes sociais. A coragem e o senso de urgência do funcionário do condomínio foram determinantes para salvar a vida da vítima. Em uma sociedade marcada por episódios recorrentes de feminicídio e violência doméstica, a atuação rápida de terceiros pode ser decisiva para interromper ciclos de agressão.

“Esse homem teve a atitude correta e corajosa. A omissão em situações assim pode custar vidas”, comentou uma representante do movimento feminista local nas redes sociais.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou mais de 1.400 feminicídios em 2023, o que representa uma mulher assassinada a cada seis horas. A maioria dos casos ocorre dentro de casa e é cometida por companheiros ou ex-companheiros. Os estados do Nordeste apresentam taxas crescentes desse tipo de crime, o que acende um alerta sobre a necessidade de prevenção e redes de proteção eficazes para as mulheres.

O Rio Grande do Norte, onde ocorreu a tentativa de feminicídio de Igor Cabral, tem intensificado ações da Patrulha Maria da Penha e outras iniciativas de combate à violência contra a mulher. Ainda assim, os registros de agressões permanecem altos.

A Polícia Militar do RN chegou rapidamente ao local após o chamado de Manoel Anésio e efetuou a prisão de Igor Cabral. Segundo os agentes, o suspeito não resistiu à prisão e foi conduzido para a delegacia plantonista. As imagens do circuito de segurança foram entregues à polícia e integram agora o processo que pode levar Cabral a responder judicialmente por tentativa de feminicídio, crime cuja pena pode chegar a 20 anos de prisão.

A Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher está ouvindo testemunhas e aguarda laudos médicos para complementar o inquérito. A expectativa é que o Ministério Público formalize a denúncia nos próximos dias.

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