Num cenário improvável para a medicina preventiva — os terminais de ônibus da cidade —, uma ação de saúde começa. Motoristas e cobradores do Consórcio Guaicurus, que normalmente passam o dia cruzando a cidade entre pontos e paradas, agora têm um novo destino: a prevenção contra o câncer de próstata. Com jalecos brancos em meio ao vai-e-vem de uniformes, profissionais de saúde se preparam para realizar exames de PSA (Antígeno Prostático Específico), uma das ferramentas mais importantes para detectar precocemente a doença.
A ideia é simples: levar o exame ao trabalhador, ao invés de esperar que ele, por alguma milagre logístico, ache tempo para ir a um consultório. “A saúde dos trabalhadores, muitas vezes, acaba ficando em segundo plano, especialmente para quem trabalha o dia inteiro na rua”, explica Demétrio de Freitas, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande-MS, que ajudou a viabilizar a ação. Com o apoio da Global Benefícios e da Belo Card, a campanha faz parte do Novembro Azul, um movimento de conscientização nacional que busca alertar sobre o câncer de próstata.
O exame de PSA, oferecido de 11 a 14 de novembro, detecta níveis anormais de proteínas no sangue que podem indicar problemas na próstata. É um exame rápido, que precisa de apenas algumas gotas de sangue e alguns minutos de paciência. O motorista não precisa sequer tirar o uniforme, e os resultados, ao contrário do trânsito, vêm em poucos dias. Para muitos desses trabalhadores, que não têm tempo de encaixar uma consulta médica em suas rotinas apertadas, é um raro momento em que a saúde chega até eles.
Confira a agenda de exames:Entre o volante e a espera - Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre homens no Brasil, perdendo apenas para o câncer de pele não melanoma. Só em 2024, espera-se que cerca de 70 mil novos casos sejam diagnosticados no país. Para a maioria dos homens, especialmente os que passam o dia no volante, o exame preventivo fica para “quando der tempo”. E assim a fila da vida segue. “A verdade é que a maioria não pensa muito na própria saúde, mas quando o exame está ali, ao lado do terminal, fica mais fácil”, comenta um motorista entre uma corrida e outra.
O Novembro Azul, que faz parte de uma campanha nacional, tenta mudar essa lógica. A ação em Campo Grande é pequena, mas se revela estratégica: é um primeiro passo para que esses trabalhadores, com dias tão preenchidos, possam pensar no próprio bem-estar.
