De sorvete de lichia à chá de cevada, passando pelo templo budista Mahayana e o recém inaugurado Museu dos Chineses na América. Um tour alucinante pelos sabores orientais escondidos em Manhattan.
Você não precisa saber mandarim para conhecer o que a China tem de bom. Manhattan concentra uma das maiores populações de imigrantes chineses do mundo e conserva em Chinatown todos os sabores da cozinha, cultura e História de um povo que construiu seu próprio sonho americano. Conheça uma China que fala inglês e algumas opções de passeios para descobrir à pé o bairro mais oriental de Nova York.
Para montar seu próprio itinerário, o site NYCgo.com disponibiliza mapas para serem expandidos na tela e lançados direto no seu celular. Para quem já está em Nova York, vale uma visita ao Official NYC Information Center, que permite criar e imprimir roteiros na hora em mesas touch screen interativas.

Comece por aqui, na interseção entre sete ruas principais, incluindo a Bowery e a Mott Street. Este trecho é uma ótima metáfora para a confluência de culturas e um dos melhores lugares da cidade para você pedir uma sopa de noodles ou um dim sum. E enquanto estiver literalmente mexendo os pauzinhos, pare para apreciar a estátua de Lin Zexu, um oficial da Dinastia Qing que lutou contra a importação ilegal de ópio pelos ingleses. Esse é só o começo de um bairro que guarda História em cada esquina.
Na 477 Broadway existe um verdadeiro empório oriental que vai colocá-lo imediatamente no maravilhoso mundo dos gatinhos da sorte, temperos e molhos de soja. Em um espaço de 2788 m2, o Pearl River Mart vende de lingerie a instrumentos musicais, passando por estátuas de Buda e seda bordada, na pacífica convivência do sublime com o puro kitsch. É isso que faz deste mercado uma verdadeira experiência de compras e de sua galeria de móveis orientais no terceiro andar a maior de Chinatown. Além disso, o Pearl River conta também com uma casa de chá no mezanino para uma pausa relaxante.
Localizado na 40 Mulberry Street, este é um show de variedades que reúne comediantes, poetas e performers em um estabelecimento único em Chinatown. A propriedade que ficava em uma modesta casa de chá ganhou ares de grande espetáculo em um novo espaço muito mais luxuoso. E a partir de Fevereiro passou a apresentar shows todas as quintas-feiras a partir das 19 horas no Ásia Roma - seu restaurante italiano com inspiração asiática.
Para amantes de chá, culinária e cultura chinesa o Ten Ren é um paraíso para os sentidos. Com sede em Taiwan, esta é a maior companhia de chá da ilha. Na filial da 77 Mott Street, em Chinatown, existe um diversificado leque de opções em folhas de chá nativas, como o Chá Real - um blend de oolong e ginseng - ou então o Chá da Primavera (herbal-florado de aroma suave, cuja colheita é sazonal e a venda limitada a poucas quantidades). Com um sem número de variações (só o jasmin possui cinco) e tipos de chá, é possível literalmente se perder em possibilidades. Pensando nisso, o mercado lança mão da ajuda de seus habilidosos funcionários, cuja orientação pode se converter em verdadeira aula sobre a bebida. Para uma imersão total, é possível agendar uma cerimônia tradicional do chá, que acomoda até 10 convidados. As apresentações duram 20 minutos e incluem dois chás à escolha do cliente, além de informações sobre sua origem e técnicas apropriadas do processo de produção.
Dentre todas as casas de chá em Chinatown esta ganha pela criatividade e pela esquisitice. O nome, que remete à “terrific” (“formidável”, em inglês), mas pode soar parecido com “terrível” em português, nunca foi tão apropriado. Com misturas ousadíssimas, você nunca mais vai apreciar uma xícara de chá da mesma forma. Peça, por exemplo, um bubble tea - feito à base de chá com leite e pérolas de tapioca negra enormes. Ou então se jogue de cabeça nos drinks feitos com alove vera, cevada, entre outros. E se você não tem medo de novas experiências, então a pedida é mesmo o “Motcha Aulait with Motcha Agar”, um Milk shake de matcha com cubos minúsculos de gelatina de matcha. Ou então, entre as opções da seção “exótica” do menu, o famoso “Blazing Sun”, que leva limão, mel, xarope de pêssego e gema de ovo. Para acompanhar, snacks asiáticos em porções tão exóticas quanto as bebidas se apresentam na forma de testículos de chocos fritos. Ok, os puristas podem ficar somente na confort food e pedir algumas torradinhas com leite condensado...
Ice Cream Factory
De chá direto para o sorvete. O choque térmico que isso provoca pode ser delicioso e imprevisível. Localizada na 65 Bayard Street, a fábrica de sorvetes de origem familiar se fixou no bairro desde 1978 e oferece um menu de deixar qualquer amante da sobremesa maluco. Com sabores de inspiração asiática e difíceis de encontrar em qualquer outro lugar, na dúvida ... peça uma bola de cada: lichia, taro, durian, cookie de amêndoas chinesas (este feito com migalhas de cookies) e o exótico Zen Butter (preparado com um mistura de amendoim e sementes de gergelim). E mesmo que você opte pela zona mais segura, como o sorvete de manga, chá verde ou mesmo as famosas tortas de abóbora que se vêem por aí em Nova York, não se deixe iludir: aqui até a sobremesa mais frugal do paladar norte-americano tem um gostinho especial.
Depois de tanto chá e sorvete você pode sentir dor de barriga. Ou simplesmente curiosidade em visitar a farmácia somente pelo fato de ela ser a mais antiga farmácia de ervas medicinais da cidade e ainda manter a balança de pesagem manual. Embora a Kamwo seja especializada em abastecer praticantes da Tradicional Medicina Chinesa, nada impede os turistas de levarem um pequeno “souvenir”. No balcão há remédios para dor de garganta, tosse e compressas para dor nas costas. Além disso, estudantes de acupuntura da Pacific College estão a postos todos as tardes para tirar dúvidas e oferecer tratamentos na clínica de aprendizes todas às quartas, a $40 dólares a sessão. Hipocondríacos à parte, se você goza de perfeita saúde, ainda assim o local oferece muitos chás orgânicos e ingredientes culinários como anis estrelado, canela e goji berries.
Depois de muito chá, compras e karaokê, talvez seja hora de se apegar a valores mais elevados. Conhecer Chinatown e dispensar o Mahayana pode ser um pecado mortal. Localizado na 133 Canal Street, o templo aberto ao público e com entrada franca, possui uma grande área para meditação, além de contar com espaço para descanso e reflexão diante de um Buda de quase 5 metros de altura (a maior atração do local). O templo ainda possui uma seleção de esculturas de marfim expostas em sua gift shop e que, embora não estejam à venda, valem a contemplação.
Treine a sua habilidade em manejar um hashi. Porque em Nova York o que não faltam são redutos gastronômicos orientais. E aqui, é possível comer pratos vietnamitas da melhor qualidade em plena Chinatown ou apreciar todas as versões da grande estrela do momento: o Ramen. Sim, aquele macarrãozinho japonês que na Big Apple vai além do couple noodles e ganha ares de celebridade em versões sofisticadas.
Comida couture para viagem. Isso é coisa de Nova York. O restaurante cheio de dim sums no cardápio recebeu um elogioso “Bib Gourmand” no Guia Michelin 2010. E merecidamente. Os pratos sempre chegam estalando de quentes e perfeitos, muito diferente de qualquer fast food que você já tenha pedido via delivery. O menu oferece também os famosos dumplings (bolinhos cozidos no caldo) nas versões vegetariana ou com recheio de carne.
E por falar em dumplings, uma sopa lendária o espera aqui. Considerada quase um obra de arte, cada bolinho é meticulosamente recheado com caranguejo e um saboroso caldo. Diferente dos tradicionais dumplings este requer uma forma especial de ser comido: faça um furinho e aprecie primeiro o caldo e depois a massa separadamente. Isso vai dar uma idéia do porquê há sempre longas filas de espera na entrada.
Na terra dos noodles, é possível pedir até macarrão sem ondinhas. O non-frills noodle soup joint é opção do cardápio para os mais chatos, que querem seu prato oriental com aparência de espaguete. O processo de feitura da massa é um espetáculo à parte, que vale a pedida só para ver o cozinheiro trabalhando habilidosamente a massa. Já os mais atirados podem pular direto para a seção que contempla pratos à base de rabo de boi, tripa e tendão.
Embora seja um bairro chinês, Chinatown reúne também alguns dos melhores restaurantes vietnamitas. Não perca a oportunidade de experimentar o pho - uma sopa preparada à base de noodles de arroz e uma fatia finíssima de carne. O segredo, porém, está no caldo, que a Pho Grand prepara com grande maestria. Com mais de 20 tipos de sopa à escolha, vale a pena experimentar também o “Xe lau” - a versão de luxo com todas as partes da carne.
Esqueça os seus dias de grana curta, quando você colocava água quente no macarrão instantâneo e achava que aquele era o melhor que a vida podia te oferecer. Ramen é assunto sério em Nova York. O prato, originário da china e que ganhou status de arte nos restaurantes japoneses é composto de noodles e várias camadas de um caldo que é cozido por horas, às vezes dias. E uma vez tendo provado o Ramen couture da Big Apple, você nunca mais vai querer saber de macarrãozinho de pacotinho...
