
Pela primeira vez na história do ensino superior brasileiro, o número de estudantes matriculados em cursos de graduação a distância (EAD) superou os alunos do ensino presencial. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (22) pelo Ministério da Educação (MEC), por meio do Censo da Educação Superior 2024, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

De acordo com o levantamento, o Brasil tem atualmente 5.189.391 estudantes em cursos EAD, contra 5.037.482 matriculados na modalidade presencial. A tendência reflete a busca por maior flexibilidade e custos mais acessíveis — principais vantagens apontadas pelos estudantes.
No entanto, o avanço da EAD acende um alerta entre educadores e autoridades. A expansão acelerada precisa vir acompanhada de critérios de qualidade. Em resposta a esse cenário, o governo federal publicou, em maio, um novo marco regulatório para a educação a distância.
Entre as medidas, o governo proibiu o formato 100% remoto para cursos como Medicina, Enfermagem, Psicologia, Odontologia e Direito. O documento também formaliza a modalidade semipresencial, com 50% das aulas online, 30% presenciais e 20% remotas ao vivo.
"As novas regras visam frear a expansão desordenada e garantir padrões mínimos de qualidade para a formação dos estudantes", afirmou o MEC.
A modalidade a distância cresceu 5,6% entre 2023 e 2024, enquanto o ensino presencial apresentou queda de 0,5%. Dos estudantes matriculados na EAD, 95,9% estão em instituições privadas. Ao todo, o ensino a distância está presente em 3.387 municípios brasileiros.
Em dez anos, o número de cursos de graduação a distância cresceu 286,7%. Já o número de ingressantes em cursos presenciais caiu 30,2% entre 2014 e 2024, enquanto os ingressos na EAD aumentaram 360% no mesmo período.
Esse avanço foi impulsionado por medidas como a flexibilização de polos, implementada em 2018 durante o governo Michel Temer, e pelo aumento da demanda durante a pandemia da covid-19.
Outro dado preocupante revelado pelo Censo é o aumento da evasão. Entre 2023 e 2024, 17,5% dos estudantes abandonaram a graduação, número significativamente maior que os 11,5% registrados em 2013-2014.
Segundo Carlos Moreno, diretor de Estatísticas Educacionais do Inep, o crescimento está diretamente ligado ao perfil dos estudantes da EAD. “O ensino a distância atrai mais alunos com idade avançada, que enfrentam desafios específicos, como conciliar estudos com trabalho e família”, explicou.
