SEBRAE
NINHOS URBANOS

Em Campo Grande, araras se adaptam e fazem ninho no coração da cidade

Em Campo Grande, as araras fazem dos troncos mortos seus ninhos e mostram como a vida se adapta mesmo em meio ao concreto

9 maio 2025 - 09h43Redação
Araras-canindés utilizam tronco seco de coqueiro como ninho em plena Avenida Afonso Pena, uma das principais vias de Campo Grande (MS)
Araras-canindés utilizam tronco seco de coqueiro como ninho em plena Avenida Afonso Pena, uma das principais vias de Campo Grande (MS) - (Foto: A Crítica)

No meio dos carros, dos fios de energia e das ruas quentes de Campo Grande, um som chama a atenção de quem passa: o grito das araras-canindés. Elas aparecem aos pares, em grupos, planando sobre os bairros, colorindo o céu com suas penas azul e amarela. O cenário é urbano, mas elas escolheram ficar. E mais: escolheram se reproduzir ali mesmo.

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Na Avenida Fadel Yunes, por exemplo, elas já têm até apelido local: avenida das araras. O motivo está nos troncos secos de coqueiros, muitos já sem vida, que foram ocupados pelas aves como ninhos naturais. E não é só lá. Até mesmo na Avenida Afonso Pena, uma das mais movimentadas da cidade, é possível ver palmeiras mortas servindo de abrigo para essas aves. São lugares em que a natureza encontrou uma forma de continuar resistindo.

Segundo o Instituto Arara Azul, que monitora o comportamento dessas aves em Campo Grande, mais de 100 ninhos ativos estão espalhados pela cidade. As araras usam as cavidades de palmeiras mortas para proteger seus ovos e cuidar dos filhotes. Para elas, troncos secos são abrigo — e a cidade, um novo território.

Troncos secos e clima quente - Durante a primavera, período de reprodução, as araras procuram lugares seguros, altos e protegidos. E é nesses troncos que elas encontram o espaço ideal. Mas o clima tem se tornado um desafio. Segundo a presidente do Instituto Arara Azul, Neiva Guedes, o calor extremo, a seca e a falta de chuvas afetam principalmente os filhotes.

Ela explica que os filhotes têm apresentado ressecamento na pele, dificuldade de hidratação e risco de infecções. Em casos graves, o problema pode afetar a circulação nos dedos e levar até à perda de parte das patas.

“Isso pode impedir a circulação sanguínea nas pontas dos dedos, causando perda dos dedos”, afirma a pesquisadora.

Araras e a cidade: um reencontro - Segundo o Instituto, a presença dessas aves na cidade é um retorno ao que já foi delas. Antes da urbanização, as araras habitavam naturalmente a região. Foram expulsas com o desmatamento e o avanço urbano, mas agora, com a oferta de frutos e locais para ninho, elas estão voltando.

Frutas como o cumbaru, típicas do Cerrado, ainda são abundantes em Campo Grande. Isso atrai e sustenta a presença das aves. Além disso, a cidade oferece cavidades em palmeiras secas, que facilitam o período de reprodução.

Como os moradores podem ajudar Diante dos efeitos do clima seco, o Instituto Arara Azul recomenda ações simples que podem ajudar as aves a sobreviver nos dias mais quentes, como colocar recipientes com água limpa em locais seguros. A orientação é trocar a água todos os dias para evitar o mosquito da dengue.

A convivência entre pessoas e araras mostra que, mesmo dentro da cidade, é possível existir equilíbrio. O que antes era paisagem exclusiva do Cerrado agora faz parte do cotidiano de quem mora em Campo Grande — e transforma postes, palmeiras e troncos secos em símbolos de resistência.

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