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FILANTROPIA

O último ato de generosidade de Ney Latorraca chega a Mato Grosso do Sul

O ator deixou parte de sua herança para o Hospital São Julião, referência no tratamento de hanseníase, reafirmando um compromisso que ultrapassou os palcos.

26 dezembro 2024 - 20h51Ricardo Eugênio
Hospital São Julião
Hospital São Julião - (Foto: Divulgação)

Ney Latorraca sempre soube como fechar uma cena com elegância. Aos 80 anos, deixou o palco da vida no dia 26 de dezembro, mas não sem antes garantir que o roteiro final carregasse um gesto generoso. Parte de sua herança será destinada ao Hospital São Julião, referência no tratamento de hanseníase em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Um capítulo discreto, mas profundamente significativo, de uma história que atravessa décadas.

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A relação de Ney com Campo Grande pode não ter sido geográfica, mas foi familiar. Sua mãe, Dona Nena Latorraca, mantinha laços fortes com a cidade e com a família Britez de Eugênio. Nos anos 80 e 90, Ney visitava com frequência o lar acolhedor de Floria Britez, mãe de Carmem Eugênio, hoje gerente de Políticas Públicas da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo). Em uma dessas visitas, ele buscou Carmem no colégio e, sem querer, parou o trânsito. Uma fila quilométrica se formou de estudantes e professores, todos atrás de um autógrafo do ator que, na época, brilhava na peça O Mistério de Irma Vap.

Ney Latorraca em um momento descontraído com Victor Eugenio e seu filho, Victor Eugenio Filho. Ney Latorraca em um momento descontraído com Victor Eugenio e seu filho, Victor Eugenio Filho.

Carmem Eugênio, gerente de Políticas Públicas da Sectur, conhecida por sua dedicação às iniciativas culturais em Campo Grande. Carmem Eugênio, gerente de Políticas Públicas da Sectur, conhecida por sua dedicação às iniciativas culturais em Campo Grande.

“Ele tinha uma alegria que contagiava. Era puro amor, engraçado o tempo todo, não havia um minuto em que ele não estivesse fazendo piada”, relembra Carmem, que guarda fotos da família ao lado do ator.

Mas o elo de Ney com Campo Grande não se restringia às visitas familiares. Desde 1994, ele era voluntário ativo do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan). E foi nessa época que confidenciou à irmã Silvia Vecellio, ligada ao Hospital São Julião, que parte de sua herança seria destinada à instituição.

Na foto, Dona Nena, de terno vermelho, aparece em pé, acompanhada por Denise Escudero, prima de Ney Latorraca, com braços abertos e sorrindo. Sentada em frente ao pai, Victor Eugenio, está Carmem, usando casaco claro. (Foto: Arquivo Pessoal)

Diretor do Hospital São Julião, Carlos Augusto Melke.Diretor do Hospital São Julião, Carlos Augusto Melke.

O presidente do hospital, Carlos Melke, recebeu a notícia com serenidade e ética. “Vamos esperar com calma. Esse gesto, caso se concretize, será uma bênção para o hospital, mas não podemos correr atrás disso. É um legado que fala por si só”, afirmou.

Em entrevistas recentes, Ney já havia mencionado seu testamento. Além do São Julião, ele deixou propriedades para o Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, e outras instituições voltadas para causas de saúde e assistência social.

Ney Latorraca, que passou 60 anos encantando plateias no teatro e na televisão, deixa uma herança que vai além dos holofotes. Seu gesto final carrega um simbolismo raro: a arte de encerrar uma história com generosidade e um senso profundo de responsabilidade social. No silêncio dos corredores do Hospital São Julião, sua memória não será apenas uma lembrança. Será um legado vivo, onde cada tratamento, cada cura, será mais um aplauso para o último ato de um dos maiores atores brasileiros.


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