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Aliados de Netanyahu entram em confronto com chefe do exército israelense

Primeiro-ministro pressiona por ocupação total da Faixa de Gaza, enquanto general Eyal Zamir e parte da cúpula militar se opõem por temer risco aos reféns

6 agosto 2025 - 08h30Redação
Palestinos trazem de volta pacotes de ajuda que conseguiram pegar enquanto voltam de Beit Lahia, em 29 de julho de 2025, depois que caminhões de ajuda entraram na Faixa de Gaza
Palestinos trazem de volta pacotes de ajuda que conseguiram pegar enquanto voltam de Beit Lahia, em 29 de julho de 2025, depois que caminhões de ajuda entraram na Faixa de Gaza - (Foto: Omar Al-Qattaa/AFP)

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, ampliou o atrito com o alto comando militar ao defender, nesta terça-feira (5), a ocupação completa da Faixa de Gaza, mesmo diante da oposição expressa pelo chefe do exército, general Eyal Zamir. O embate tornou-se público e expôs divisões profundas no governo israelense em meio à guerra contra o Hamas.

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Durante uma reunião com autoridades do alto escalão, Netanyahu insistiu na necessidade de controle militar de todo o território palestino, mesmo reconhecendo que a ação pode colocar em risco os cerca de 20 reféns israelenses ainda mantidos em poder do grupo extremista. A imprensa israelense informa que o encontro durou aproximadamente três horas e serviu para alinhar os planos que devem ser apresentados em uma reunião mais ampla do gabinete ainda nesta semana.

Zamir, por sua vez, se opõe à medida e alerta para o perigo direto aos reféns. O exército evita operar em áreas onde há suspeita da presença deles, temendo represálias do Hamas, que já ameaçou executar os sequestrados caso as tropas se aproximem.

A proposta de Netanyahu acirrou os ânimos dentro da coalizão de governo. Políticos da ala mais radical, como o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, exigiram que Zamir se posicione publicamente a favor da ocupação. “Ele deve declarar que cumprirá integralmente as ordens da liderança política”, escreveu Ben-Gvir na rede X (antigo Twitter).

O filho mais velho do primeiro-ministro, Yair Netanyahu, que vive nos Estados Unidos, também entrou na polêmica. Ele sugeriu, em publicação nas redes sociais, que Zamir estaria articulando uma espécie de conspiração contra seu pai. “Se quem ditou esse tuíte é quem pensamos (Zamir), isso é uma tentativa de golpe militar, digna de uma república das bananas da América Central dos anos 70”, escreveu, chamando a atitude de “criminosa”.

Apesar da pressão, o general Eyal Zamir recebeu apoio dentro e fora do governo. O chanceler Gideon Sa’ar foi o único membro da cúpula a defendê-lo publicamente. “O comandante militar tem a obrigação de apresentar sua avaliação profissional de maneira clara à liderança política”, afirmou.

O ministro da Defesa, Israel Katz, ainda que mais alinhado ao governo, fez uma cobrança indireta ao exército. “Assim que a decisão política for tomada, o alto comando militar a executará profissionalmente, como tem feito até agora”, declarou.

Na oposição, figuras como Benny Gantz e Yair Lapid se posicionaram contra a forma como Netanyahu conduz o conflito interno. Lapid afirmou que esse tipo de divergência deveria ser resolvida “a portas fechadas”. Gantz foi direto: “O problema está na liderança política, não no comando militar.”

Atualmente, o exército israelense controla cerca de 75% da Faixa de Gaza. No entanto, a presença de civis e a ameaça aos reféns impedem o avanço total das tropas. Um dos dilemas centrais é o que fazer com os 2 milhões de palestinos que vivem no território, caso a ocupação total se concretize.

Durante cerimônia de recrutamento realizada no centro de Israel, Netanyahu reforçou os objetivos da guerra, mas evitou mencionar explicitamente a ocupação total. Segundo ele, as prioridades são: "derrotar o inimigo", "libertar os reféns" e "garantir que Gaza não represente mais uma ameaça a Israel".

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