
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou nesta quinta-feira (7) que pretende assumir o controle total da Faixa de Gaza ao fim do conflito com o Hamas. A proposta é entregar a administração do território a uma "força árabe", ainda não definida, em um modelo de governo civil transitório. Segundo ele, nem Israel nem palestinos estariam à frente dessa gestão.

A declaração foi feita durante uma entrevista a jornalistas da Índia, repercutida pela emissora News18, afiliada da CNN no país asiático. Netanyahu enfatizou que não há intenção de anexar Gaza, mas de garantir segurança e impedir o retorno do Hamas ao poder. "Nosso objetivo é destruir o Hamas e resgatar nossos reféns. Depois disso, queremos entregar Gaza a um governo de transição", disse.
Apesar da fala de que Israel não pretende ocupar o território permanentemente, o plano gerou forte reação de grupos palestinos e de países árabes, além de ampliar o debate interno dentro do próprio governo israelense e das Forças de Defesa de Israel.
A proposta de Netanyahu foi recebida com indignação pelo Hamas, que acusou o premiê israelense de comprometer a vida dos reféns em nome de interesses políticos. O grupo também rejeita qualquer plano de transição que exclua a participação palestina.
A Jordânia, um dos poucos países da região com laços diplomáticos ativos com Israel, também condenou a ideia. Em entrevista à agência Reuters, uma autoridade do governo jordaniano afirmou que qualquer solução para Gaza deve ser negociada com os próprios palestinos. “Os árabes não vão aceitar as políticas de Netanyahu nem servir de ponte para seus planos”, disse.
O governo jordaniano defende que a segurança e administração de Gaza sejam feitas por instituições palestinas reconhecidas e legítimas, o que contraria diretamente a proposta israelense de envolver uma força árabe não especificada.
Mesmo sem revelar detalhes operacionais do plano, Netanyahu deixou claro que Israel pretende manter o controle militar do território, estabelecendo um perímetro de segurança sob responsabilidade das forças israelenses. A administração civil seria entregue à tal força árabe, com o compromisso de manter a estabilidade local e não representar ameaça ao Estado judeu.
“Queremos ter um perímetro de segurança, mas não queremos governar Gaza”, disse o premiê em entrevista à Fox News. “Vamos entregá-la às forças árabes, que governarão adequadamente, sem nos ameaçar, dando aos moradores uma vida boa”, completou.
A proposta de Netanyahu não enfrenta resistência apenas fora de Israel. Dentro do país, cresce a pressão de grupos familiares dos reféns, da oposição política e até do comando militar.
Críticos apontam que assumir o controle completo de Gaza pode colocar em risco a vida dos reféns que ainda estão em poder do Hamas, além de expor soldados israelenses e desgastar ainda mais a imagem do país no cenário internacional.
Um dos principais nomes do exército, o chefe do Estado-Maior, general Eyal Zamir, afirmou que continuará se posicionando sobre o tema, mesmo diante da polêmica. “O debate é parte essencial da cultura do nosso exército, tanto internamente quanto em relação ao público. Vamos continuar expressando nossa opinião sem receio”, declarou o militar.
A proposta ainda esbarra em possíveis tensões dentro da própria coalizão que sustenta o governo de Netanyahu. Ministros de linha dura, como Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças), têm defendido a anexação total da Faixa de Gaza e, em algumas ocasiões, chegaram a sugerir a expulsão dos palestinos da região, mesmo que sob o eufemismo de "saída voluntária".
Apesar da retórica agressiva de seus aliados mais à direita, Netanyahu adotou um discurso mais moderado, evitando confirmar qualquer intenção de ocupação definitiva. Ainda assim, sua proposta de transição sob comando árabe não convenceu setores importantes da sociedade israelense e tampouco os principais atores regionais.
Até o momento, o governo israelense não informou quais países árabes estariam dispostos a assumir a gestão temporária de Gaza, nem em que moldes isso ocorreria. A ausência de detalhes levanta dúvidas sobre a viabilidade da proposta, especialmente diante da oposição de países como a Jordânia.
Enquanto isso, o impasse continua. O conflito segue, os reféns permanecem em cativeiro e o cenário para o futuro de Gaza segue indefinido, com Israel tentando construir uma solução que agrade seus interesses de segurança, mas que até agora encontra resistência tanto interna quanto externa.
