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Crime organizado leva óxi e 'minicracolândias' à Amazônia e afeta comunidades indígenas

Pesquisa lançada durante a COP30 revela crescimento do tráfico e uso de drogas como o óxi em cidades e aldeias do Alto Solimões

19 novembro 2025 - 10h00Ítalo Lo Re
A mineração em terras indígenas cresceu 625% entre 2011 e 2021, no Brasil.
A mineração em terras indígenas cresceu 625% entre 2011 e 2021, no Brasil. - (Foto: Carlos Bandeira Jr.)

A presença de facções criminosas como o Comando Vermelho (CV) está provocando profundas transformações sociais e agravando problemas de saúde pública e segurança na Amazônia Legal. Segundo a 4ª edição do estudo Cartografias da Violência na Amazônia, divulgada nesta quarta-feira (19) durante a COP30, o avanço do crime organizado tem levado ao aumento do consumo de óxi — droga mais forte que o crack — e ao surgimento de minicracolândias até em comunidades indígenas no Alto Solimões, região de tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia.

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O estudo, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com os institutos Mãe Crioula e Clima e Sociedade, revela que o uso de óxi tem se espalhado por cidades como Tabatinga e Benjamin Constant (AM), impactando especialmente comunidades indígenas ticuna em áreas periurbanas.

O “óxi” — mistura de pasta base de cocaína com solventes tóxicos como querosene e cal — é descrito como uma droga de baixo custo, altamente viciante e de efeito devastador. “Famílias relatam perder o controle de seus filhos muito jovens, sendo recrutados para o consumo e para a pequena criminalidade a ele associada”, relata o documento.

Os pesquisadores registraram a formação de minicracolândias — pontos de consumo e venda contínua de drogas — até mesmo dentro de aldeias como Umariaçu e Belém do Solimões, uma das maiores do país. Em Belém, há relatos de encontros noturnos com música, álcool e drogas, envolvendo inclusive adolescentes entre 12 e 16 anos.

“É uma surpresa que tenha chegado também num território como esse a formação de um problema já bem documentado em grandes centros urbanos”, afirma David Marques, gerente de projetos do FBSP.

Segundo ele, a droga e o microtráfico alteraram completamente a dinâmica social das aldeias. Jovens ticuna são cooptados pelo tráfico e passam a integrar o comércio varejista de drogas, em muitos casos movidos pela falta de oportunidades e endividamentos.

O estudo identificou a atuação de ao menos 17 facções criminosas na Amazônia Legal, incluindo três estrangeiras. O Comando Vermelho domina mais de um quarto das 772 cidades da região, e o PCC também tem atuação registrada.

A posição estratégica da Amazônia para o tráfico internacional — com facilidade de acesso ao Peru e à Colômbia — torna a região ideal para importação de cocaína e skunk. As mesmas rotas são utilizadas para crimes ambientais.

A violência associada ao tráfico afeta também as mulheres. Em 2024, foram registrados 586 assassinatos de mulheres na Amazônia Legal, taxa 21,8% superior à média nacional. Casos de violência doméstica vinculados ao consumo de drogas têm crescido, inclusive envolvendo mulheres com filhos pequenos nas minicracolândias.

“Lideranças relatam que, antes da entrada do tráfico, não havia registros de agressões vinculadas ao uso de drogas ou álcool”, aponta o estudo.

O Cartografias destaca que as 41 terras indígenas do Alto Solimões estão sendo usadas como rotas logísticas, pontos de armazenamento e circulação de drogas. As lideranças relatam ameaças, retaliações e invasões silenciosas, além do aumento no uso de álcool e drogas dentro das comunidades.

“A cocaína é barata, mas eles acabam utilizando uma mais barata ainda, um refugo, um resto da preparação, que vira o óxi”, descreveu uma autoridade local de Benjamin Constant.

Para os pesquisadores, a intensificação do narcotráfico em comunidades indígenas e periféricas tem sido pouco documentada e ainda carece de ações públicas concretas. “Embora o uso de álcool já fosse uma preocupação antiga, a entrada do óxi e do microtráfico traz um novo patamar de desestruturação familiar, aliciamento juvenil e insegurança cotidiana”, afirmam.

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