
João Vitor Benitez percebeu uma coisa simples: os vizinhos da Aldeia Jaguapiru, em Dourados, gastavam tempo demais para comprar o básico. Era bicicleta pra lá e pra cá, estrada de terra, chuva no caminho e sacolas pesadas na volta. Faltava um comércio perto, dentro da comunidade, que oferecesse de tudo um pouco. Faltava a Mercearia Ipê — que, agora, completa cinco anos de portas abertas e balcão cheio.

Aberta no quintal da família da esposa, Adrieli Caroline, que é da etnia Guarani, a mercearia tem nome de árvore: Ipê, por causa das mudas plantadas ao redor e também por um certo encantamento antigo de João pelas flores brancas e amarelas. “Em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, onde cresci, tinha só um ipê. Aqui tem vários. Decidimos homenagear”, conta.
Hoje, a loja atende a comunidade com tudo que se precisa no dia a dia: arroz, feijão, carne congelada, frango assado aos domingos, produtos de limpeza, doces e picolés, esses últimos, disputados pelas crianças que estudam na escola ali perto. O segredo? Vender em pequenas quantidades, com variedade, e prestar atenção no que as pessoas realmente querem.
Na fachada simples, o nome da mercearia e a homenagem aos ipês que cercam o local; João Vitor aposta na identidade visual afetiva e no atendimento próximo à comunidade.
Da multinacional para a Aldeia -Antes da mercearia, João Vitor era funcionário de uma multinacional. Mas em 2017, ao se casar com Adrieli, mudou-se para a aldeia e precisou redirecionar a vida. Começou vendendo frutas da propriedade da família e depois se dedicou à produção de sabonetes fitoterápicos ao lado da sogra, que é bióloga. Deu certo por um tempo, até que a demanda caiu. A experiência, no entanto, serviu de base para um novo começo.
Foi ali que surgiu a Mercearia Ipê, pensada para facilitar a vida de quem mora na aldeia — uma solução local para um problema local. Mas empreender, como todo mundo sabe, é mais do que intuição. É cálculo, anotação, estoque, planilha, e aí que mora o desafio.
Com prateleiras cheias e produtos de primeira necessidade, a Mercearia Ipê facilita o acesso de moradores da Aldeia Jaguapiru a itens essenciais do dia a dia.
O empurrão do Sebrae - Foi em 2023 que João Vitor encontrou no Sebrae/MS o apoio que faltava. Participando do projeto Comunidade Empreendedora, feito em parceria com o Instituto BRF, ele aprendeu a precificar corretamente os produtos, controlar o estoque e organizar as finanças.
“Antes, a gente errava muito no preço. Com as ferramentas do Sebrae, comecei a cadastrar as mercadorias, registrar o valor de compra, definir margem de lucro, e isso mudou tudo”, explica.
De lá pra cá, João passou por outras consultorias e, este ano, trocou a planilha por um sistema automatizado, que não só ajuda no controle como sugere compras futuras e avisa sobre produtos encalhados. A gestão ficou mais precisa, e o negócio, mais sustentável.
Mais do que vender: escutar - A Mercearia Ipê não tem letreiro de néon nem fachada espelhada. Mas tem escuta, tem atenção, tem compromisso com o entorno. E é por isso que ela cresce. João continua observando o vai e vem da vizinhança, anotando mentalmente os pedidos, ajustando o que oferece com base no que falta. E já pensa nos próximos passos.
“Quero ampliar a variedade dos produtos e melhorar o atendimento. Porque aqui não é só comércio, é comunidade. A gente vende, mas também ajuda a tornar o dia mais fácil pra quem vive aqui”, diz.
