
No momento em que se chega na Nova Campo Grande, o clima e o ambiente parece tranquilo. Mas ao caminhar pelas ruas mais próximas Frigorífico JBS S/A na saída para Aquidauana, a realidade é bem diferente: o forte cheiro que vem da fábrica se espalha pelo ar causando um certo desconforto para quem mora ou passa pela região. É assim que moradores e comerciantes relatam seu dia a dia, convivendo com o 'fedor' que continua, apesar das promessas de solução.

A comerciante Luciana Alves é proprietária de uma loja de roupas no bairro, tem vivenciado o problema desde sua mudança para o Jardim Carioca, há 20 anos.
Ela destaca que o cheiro sempre foi um incômodo, mas a situação piorou desde a instalação da unidade da JBS na região. “O cheiro é insuportável, principalmente no final da tarde, quando o sol começa a diminuir. Em dias frios, então, fica muito mais forte. Já houve uma leve melhora, mas o problema voltou com força total. E com ele, também vêm os mosquitos e as moscas. Tudo fica mais complicado”, relata.
Luciana conta que, para quem já se acostumou, o cheiro não é tão impactante, mas os visitantes da região, como os clientes da loja, não têm a mesma percepção. “Quem não está acostumado sente imediatamente e muitas pessoas evitam vir até aqui por causa disso", lamenta.
Ana Iris: "Sexta-feira é o pior dia. É quando o cheiro se expalha com mais intensidade"
Proprietaria de um salão de belezas na região, Ana Iris conta apesar da situação ter melhorado um pouco recentemente, ainda tem dias que o cheiro incomoda. "Normalmente na sexta-feira o cheiro forte esta presente. Não sei o que eles fazem lá (no frigorifico) nas sextas mas o cheiro é muito ruim", pontua.
O chaveiro e morador da região desde 1997, Daniel Rosa, compartilha a experiência de viver tão próximo à unidade da JBS. “Eu moro bem em frente, na saída dos caminhões. Quando entro por baixo do viaduto, o cheiro já começa a ficar forte, e às vezes é insuportável”, revela.
Embora a situação tenha melhorado um pouco, ele ainda sente o cheiro em alguns momentos do dia, especialmente ao final da tarde. “Antes, o cheiro era constante, mas agora, em algumas ocasiões, ainda conseguimos sentir o odor forte", explica.
Daniel: "Quando passo por baixo do viaduto, o cheiro já começa a ficar forte, e às vezes é insuportável."
Em março deste ano, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), ciente da insatisfação e dos impactos causados à população, ingressou com uma Ação Civil Pública, pedindo que a JBS adotasse medidas para resolver o problema. A ação, proposta pela 26ª Promotoria de Justiça, foi movida após investigação que apurou o mau cheiro proveniente da produção de farinha base para ração animal, um dos processos da planta.
Na ocasião, foi solicitado que a JBS tomasse providências imediatas para reduzir o mau cheiro, incluindo melhorias no sistema de exaustão e o plantio de uma cortina arbórea ao redor do perímetro da planta. A ação judicial também exigia que a empresa apresente um projeto técnico para vedação das unidades com maior emissão de gases com maus odores e, caso necessário, que a planta seja transferida para um local mais adequado, como o Núcleo Industrial da cidade, em até um ano.
No entanto, um mês depois, a JBS, em sua defesa, argumentou que não é responsável pelos alegados maus odores na região e que, para acabar o problema, já tomou algumas medidas, como o plantio de cortinas arbóreas com mudas de eucalipto citriodora nas áreas próximas à fábrica. A empresa chegou a se comprometer a adotar mais ações para reduzir os odores, mas, para os moradores, essas providências ainda não são suficientes.
No mês que vem, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) realizará a “Pauta Verde”, um mutirão que concentra processos sobre questões ambientais. Durante este evento, é esperado que as partes envolvidas busquem uma solução definitiva para o impasse.
A reportagem do jornal A Crítica procurou pelo JBS, mas até o momento não houve retorno.
