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19 de novembro de 2025 - 19h46
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CONSCIÊNCIA NEGRA

Maioria de pretos e pardos não sabe como denunciar racismo no Brasil

Levantamento revela desconhecimento sobre leis antidiscriminatórias e baixa confiança no encaminhamento das denúncias

19 novembro 2025 - 16h45
Pesquisa revela que falta de informação é barreira para que pretos e pardos denunciem casos de racismo no país.
Pesquisa revela que falta de informação é barreira para que pretos e pardos denunciem casos de racismo no país. - Foto: Reprodução

Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra, mostra que mais da metade dos brasileiros pretos e pardos não sabe como denunciar casos de racismo ou injúria racial. Segundo o estudo, 52,2% dos entrevistados desconhecem os caminhos para buscar apoio institucional, e apenas 47,5% afirmam conhecer legislações antidiscriminatórias.

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O levantamento, realizado pelos institutos Orire e Sumaúma entre julho e setembro deste ano, ouviu 423 pessoas de todas as regiões do país — 310 pretas e 113 pardas — por meio de um formulário online. O estudo teve apoio da Uber e também investigou percepções sobre racismo em deslocamentos urbanos.

Os números revelam uma distância entre vivência e acesso à Justiça. Embora 59,3% relatem já ter sido vítimas de racismo ou injúria racial durante deslocamentos, 83,9% nunca registraram boletim de ocorrência. Apenas 20,3% acreditam que uma denúncia seria encaminhada para os devidos fins legais.

A fundadora do Instituto Orire, Thais Bernardes, define o cenário como um “abismo informacional”. Para ela, a falta de clareza sobre onde denunciar, somada ao retorno quase inexistente — somente 1,7% dos denunciantes recebera alguma resposta — evidencia um problema estrutural.
“É um sistema que não se comunica com quem mais precisa dele”, afirma.

Thais, que também dirige o portal Notícia Preta, aponta que a desinformação e a falta de resposta institucional sustentam a impunidade:
“O desconhecimento é também uma forma de violência.”

A pesquisa mostra ainda que 77,1% dos entrevistados dizem saber diferenciar racismo (crime contra a coletividade) de injúria racial (ofensa direcionada ao indivíduo).

Ações necessárias e atendimento adequado - Para enfrentar o problema, Thais defende que o combate ao racismo exige mais do que informação. Segundo ela, é preciso qualificar o atendimento nas delegacias, ampliar políticas públicas, fortalecer investigações e garantir punições.
“Se a pessoa chega na delegacia e é desencorajada ou ridicularizada, o sistema de Justiça também precisa ser educado em antirracismo”, afirma.

O projeto Percepções sobre Racismo e os Caminhos para a Justiça também produziu um guia com orientações sobre formas de denunciar. As indicações jurídicas foram elaboradas pela Black Sisters in Law, rede global de advogadas negras.

Entre as orientações estão:

não é necessário advogado para registrar ocorrência;

o registro pode ser feito online ou presencialmente em delegacia comum ou especializada;

leis como a Lei Caó (1989), que trata o racismo como crime imprescritível e inafiançável, e o Estatuto da Igualdade Racial (2010), são pilares da proteção legal.

Para que uma denúncia seja eficaz, Thais reforça que ela precisa gerar consequências sem adoecer emocionalmente a vítima. As orientações incluem procurar delegacias, Ministério Público, Defensoria Pública, ouvidorias e canais oficiais.

O governo federal disponibiliza o Disque 100, serviço gratuito para denúncias de violações de direitos humanos.

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