Em setembro, cem exemplares de um livro que fala de infância, arte e saudade ganharam novos destinos. Eles foram entregues a bibliotecas públicas de Mato Grosso do Sul, por meio do Projeto Leia MS. Trata-se da reedição de “No Mundo Encantado de Luciana”, obra que nasceu do encontro entre a escritora Raquel Naveira e a artista visual Luciana Rondon, marcada por ilustrações em estilo naïf e prosa poética carregada de memória e imaginação.
O livro não é novo, mas sua chegada ao Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas reacende o acesso a um material raro e sensível, que fala à infância e à arte com a mesma delicadeza. Publicado originalmente anos atrás, o título voltou a circular graças ao Edital nº 6 – Leia MS, lançado pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul dentro da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, em parceria com o Ministério da Cultura e o Governo do Estado.
A proposta do projeto é simples e poderosa: ressignificar obras já publicadas, ampliando seu alcance por meio de novas tiragens e distribuição gratuita. Além das bibliotecas, mais cem exemplares foram entregues às autoras para ações de divulgação e venda direta.
O livro também está disponível em versão digital pelo aplicativo MS Digital, na aba Leia MS, com acesso gratuito por dois anos. A versão online é acompanhada por um roteiro de leitura e um vídeo de apresentação, conforme previsto no edital.
“No Mundo Encantado de Luciana” é um convite ao mergulho sensível nas memórias da infância. A narrativa se desenha a partir das telas coloridas e espontâneas de Luciana Rondon, inspiradas por um estilo primitivista que remete à ingenuidade e ao olhar lúdico. Com base nesse universo visual, Raquel Naveira costurou palavras em forma de lembrança, conectando suas próprias memórias da cidade de Bela Vista, fronteira com o Paraguai, a referências do modernismo brasileiro, evocando nomes como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti.
O resultado é um livro em que texto e imagem dialogam o tempo inteiro. O leitor percorre castelos, joaninhas, trenzinhos e pássaros num movimento que oscila entre o sonho e a lembrança. “Penetrar na Casa da Beleza é fundamental”, resume Raquel. “É disso que trata o livro: da beleza da palavra e da cor, da saudade, da natureza e dos sonhos.”
Luciana reforça a dimensão afetiva da obra. Para ela, a criação do livro foi também uma forma de reconectar-se com a própria infância. “Quisemos levar ao leitor muita cor e a possibilidade de reencontrar sua criança interior, com esperança, coragem e espontaneidade”, diz. “Há ainda uma homenagem às avós, guardiãs de ensinamentos que atravessam gerações.”
A obra também foi pensada como um recurso educacional. Professores encontram sugestões de atividades que envolvem leitura, escrita criativa e produção artística, favorecendo o uso do livro em projetos pedagógicos. Para bibliotecas públicas e escolares, a chegada do título representa ampliação de acervo com literatura regional de qualidade, algo ainda raro no cotidiano da rede pública.
O Leia MS se propõe justamente a preencher essa lacuna. Ao apoiar a reedição de livros já publicados, a política cultural valoriza autores locais, estimula a permanência de suas obras em circulação e fortalece o elo entre literatura e território. No caso de Raquel e Luciana, esse elo tem cheiro de terra vermelha, sons de infância e paisagens que se guardam mais com o coração do que com os olhos.
