
A noite de quinta-feira, 21 de agosto, entrou para a história da caça controlada em Costa Rica, no norte do Mato Grosso do Sul. Aparecido Gonçalves de Souza, de 43 anos, conhecido como Cidão, abateu um javali de impressionantes 300 quilos e 2,20 metros de comprimento, considerado o maior exemplar já visto na região. O animal foi encontrado às margens do Clube de Tiro CTC 306, próximo à Fazenda Bom Jesus, a cerca de 40 km da área urbana do município.

Cidão, proprietário da Loja Caça & Pesca Costa Rica, estava acompanhado do filho Jorge Guilherme e do colaborador Arthur. A equipe já monitorava o animal há cerca de 30 dias com ajuda de equipamentos como câmera termal, mas apenas naquela noite foi possível realizar a aproximação e o disparo certeiro.
"Era algo que eu nunca tinha visto. Quando avistamos, descemos da caminhonete, fizemos a aproximação e percebemos o tamanho descomunal do animal. Fiz os primeiros disparos com uma carabina Puma calibre 357, mas não acertei. Foi então que subimos na caminhonete e, em perseguição lateral, consegui alvejá-lo na cabeça. Ele tombou na hora", relatou o caçador ao Jornal MS Todo Dia.
Equipamento, técnica e risco real - Segundo Cidão, a caçada exigiu preparo físico, mental e conhecimento técnico. "Utilizamos câmera termal para detectar o calor, depois aproximamos com a lanterna e, finalmente, com a arma de fogo. É preciso muita calma, responsabilidade e experiência para evitar riscos fatais", detalhou.
O animal foi abatido com um disparo certeiro na cabeça. Após a captura, a equipe precisou de grande esforço para transportar o corpo do javali até a caminhonete, dada a dimensão e o peso incomuns do bicho.
Cidão ressalta que caçar javalis não é uma atividade para amadores. "Um javali desse tamanho não tem predador natural, nem mesmo a onça encara. Ele é como um tanque de guerra. Se resolver atacar, não há quem segure", afirmou.

Superpopulação e impacto ambiental - A caçada de Cidão reacende o debate sobre a crescente população de javalis no Mato Grosso do Sul, uma das maiores preocupações ambientais e econômicas do estado atualmente. Estima-se que somente na região de Costa Rica, Chapadão do Sul, Figueirão, Paraíso das Águas e Alcinópolis haja entre 1.000 e 1.200 caçadores cadastrados junto ao Exército e ao Ibama, com autorizações específicas para o controle dessa fauna exótica invasora.
Ainda assim, os números não são suficientes para conter a rápida multiplicação da espécie. "Uma fêmea pode parir duas vezes ao ano, com até 14 filhotes por vez. Em seis meses, já estão aptas a reproduzir. É uma multiplicação sem controle", alertou Cidão.
Além do prejuízo direto às lavouras, os javalis afetam nascentes, devoram ninhos e filhotes de aves nativas, além de ameaçarem outros animais silvestres. O controle da população é considerado essencial para a preservação ambiental do bioma Cerrado.
Caça legalizada e parcerias no campo - Desde 2017, Cidão é credenciado como controlador de fauna exótica invasora. Ele afirma que todos os procedimentos adotados seguem as normas da legislação brasileira, e que mantém sua documentação regularizada junto aos órgãos responsáveis.
A prática conta, segundo ele, com o apoio da maioria dos produtores rurais da região. "É uma parceria: nós controlamos os animais e eles nos dão acesso às áreas. Claro, alguns ainda têm receio, mas a maioria apoia porque sabe dos prejuízos que o javali causa às lavouras e ao meio ambiente", explicou.
Ele reforça que só realiza caçadas com pessoas experientes. "Um erro pode ser fatal. Se o disparo falha e o javali parte para cima, ele pode matar ou ferir gravemente. Por isso só levo comigo quem é treinado e preparado", enfatizou.
Animal será aproveitado para produção de salame - Segundo avaliação do próprio caçador, o javali abatido estava em excelente estado de saúde e deve ser totalmente aproveitado para a produção de salame artesanal, prática comum entre caçadores da região. Estima-se que o animal tivesse entre 7 e 8 anos de idade.
"Foi uma caçada marcante, uma das maiores emoções da minha vida. Já abati animais de 150 a 200 kg, mas nada parecido com esse. Foi único", concluiu Cidão, ainda emocionado com o feito.
O registro do animal de 300 kg em Costa Rica não apenas entra para a história local, como também reforça a urgência de estratégias mais eficazes de controle da fauna invasora no Estado, que afeta diretamente a produção agrícola, o meio ambiente e a segurança da população rural.
