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FAIXA DE GAZA

Gabinete de Segurança de Israel aprova plano para tomar a Cidade de Gaza

Medida amplia ofensiva militar e prevê controle total da Faixa de Gaza; decisão é criticada por militares e pode pôr reféns em risco

8 agosto 2025 - 06h09
Palestinos correm para coletar ajuda humanitária lançada de paraquedas na Cidade de Gaza, no norte da Faixa de Gaza, em 7 de agosto de 2025.
Palestinos correm para coletar ajuda humanitária lançada de paraquedas na Cidade de Gaza, no norte da Faixa de Gaza, em 7 de agosto de 2025. - (Foto: Jehad Alshrafi/AP)

O Gabinete de Segurança de Israel aprovou, na madrugada desta sexta-feira (8, pelo horário local), um plano estratégico para tomar a Cidade de Gaza, núcleo urbano central da Faixa de Gaza. A informação foi divulgada pelo gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, e marca mais um passo decisivo na ofensiva do país contra o território palestino, em resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023.

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A aprovação do plano representa uma escalada significativa no conflito, iniciado há quase um ano, e reforça a intenção de Israel de ampliar seu domínio territorial sobre Gaza. Segundo o governo israelense, o objetivo é retomar o controle completo da Faixa de Gaza e, posteriormente, transferir a administração para forças árabes aliadas que se opõem ao Hamas.

Israel já controla cerca de 75% da Faixa de Gaza, conforme estimativas oficiais, o que inclui áreas ao norte e centro do território, duramente afetadas por meses de combates. A tomada da Cidade de Gaza, considerada o coração político e populacional da região, representaria um marco estratégico na campanha militar.

Apesar da aprovação política, o plano encontra resistência entre líderes militares de Israel, segundo informações da Associated Press. Altos comandantes expressaram preocupação com os riscos aos reféns ainda mantidos pelo Hamas e ao aumento das baixas entre soldados israelenses em caso de confrontos urbanos de alta intensidade.

A Cidade de Gaza é densamente povoada, mesmo após meses de deslocamentos forçados da população civil. Estima-se que milhares de pessoas ainda estejam abrigadas em escolas, hospitais e outras estruturas da região central. A presença desses civis complica ainda mais qualquer operação militar terrestre, com risco elevado de vítimas colaterais e agravamento da crise humanitária.

Antes da reunião do gabinete, Benjamin Netanyahu reiterou a estratégia de recuperar o controle total da Faixa de Gaza, com o argumento de que isso seria essencial para garantir a segurança de Israel. Em suas declarações públicas, o primeiro-ministro defendeu que, uma vez pacificada a região, a administração do território seria repassada a “forças árabes amigas”, sem relação com o Hamas.

A fala é interpretada como um movimento para isolar politicamente o grupo palestino e cortar seus canais de influência, inclusive junto à população local. O plano, no entanto, não especifica quais países ou forças árabes estariam dispostos a assumir esse papel, tampouco se há consenso internacional sobre a proposta.

A decisão do governo israelense ocorre em meio a uma crescente pressão internacional por um cessar-fogo duradouro e por avanços nas negociações para a libertação dos reféns. Ao mesmo tempo, agências da ONU e organizações humanitárias alertam para a catástrofe humanitária em curso na Faixa de Gaza, onde a população enfrenta escassez de alimentos, medicamentos e água potável.

Com mais de 35 mil mortos e dezenas de milhares de feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, o conflito tem provocado destruição generalizada e deslocamento em massa. Relatórios recentes indicam que mais de 1,7 milhão de palestinos foram forçados a deixar suas casas desde o início da guerra.

O plano de tomar a Cidade de Gaza é visto por analistas internacionais como um movimento arriscado, que pode comprometer ainda mais os esforços de mediação de países como Egito, Catar e Estados Unidos.

A presença de reféns israelenses ainda mantidos em cativeiro pelo Hamas é um dos pontos centrais da divergência entre o governo e os setores militares. Estima-se que cerca de 120 reféns continuem sob controle do grupo palestino, a maioria deles capturada no ataque de outubro de 2023.

Nos bastidores, negociações indiretas têm sido conduzidas com o apoio de mediadores internacionais, mas os avanços são lentos. As ações militares mais agressivas, como a entrada em áreas densamente povoadas, podem colocar em risco a integridade física desses reféns e inviabilizar uma saída diplomática.

A decisão do Gabinete de Segurança de Israel não inclui um cronograma específico para a tomada da Cidade de Gaza, mas sinaliza que a operação pode ser iniciada nos próximos dias ou semanas, a depender da situação no terreno e de avaliações estratégicas adicionais.

Enquanto isso, as operações aéreas e incursões pontuais seguem sendo realizadas em diversas partes da Faixa de Gaza, inclusive no sul, onde milhares de palestinos estão deslocados em áreas como Rafah e Khan Younis.

A escalada militar ocorre também num contexto de fragilidade política interna, com pressões crescentes sobre Netanyahu tanto por parte da oposição quanto de familiares dos reféns, que pedem um acordo imediato para libertação dos sequestrados.

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