
O financiamento de programas de merenda escolar mais que dobrou entre 2020 e 2024, passando de US$ 43 bilhões para US$ 84 bilhões no mundo. A expansão permitiu que 80 milhões de crianças, antes sem acesso a refeições escolares, passassem a ser atendidas nesse período.

Os dados fazem parte do relatório O Estado da Alimentação Escolar no Mundo, divulgado nesta quarta-feira (10) pelo Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP). De acordo com o estudo, 466 milhões de estudantes receberam alimentação escolar em 2024 — 20% a mais do que quatro anos antes.
O número de países com políticas nacionais de merenda quase dobrou em quatro anos, de 56 para 107. O crescimento é mais visível em nações de baixa renda, com aumento de 60% no número de crianças atendidas desde 2020. A África lidera esse avanço, especialmente em Quênia, Madagascar, Etiópia e Ruanda.
Segundo Daniel Balaban, diretor do WFP no Brasil, o investimento é cada vez mais entendido como estratégico:
“Não é empréstimo, são os próprios países colocando recursos no orçamento. Alimentação escolar é investimento em educação, saúde, agricultura e cidadania. O retorno é garantido.”
O estudo mostra que refeições adequadas melhoram o desempenho cognitivo, notas em matemática e índices de alfabetização. Crianças que chegam à escola sem se alimentar apresentam maior dificuldade de atenção e rendimento.
Além disso, a cada US$ 1 investido em merenda, o retorno econômico varia entre US$ 7 e US$ 35, segundo o relatório. O atendimento atual gera 7,4 milhões de empregos diretos e indiretos, desde cozinhas escolares até agricultura e logística.
O relatório destaca ainda a importância de modelos que priorizam compras locais, fortalecendo a agricultura familiar e promovendo dietas mais saudáveis.
Nesse aspecto, o Brasil é referência mundial com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que atende quase 40 milhões de alunos em 150 mil escolas. São cerca de 50 milhões de refeições diárias com investimento anual de R$ 5,5 bilhões.
Desde 2009, uma lei garante que 30% dos recursos do programa sejam destinados a agricultores familiares, o que gera renda local e movimenta economias regionais.
Liderança internacional
O Brasil também preside, ao lado de Finlândia e França, a Coalizão para a Alimentação Escolar, rede global com mais de 100 países e 140 parceiros. Além disso, em 2011 o país criou o Centro de Excelência contra a Fome, em parceria com o WFP, que hoje apoia mais de 80 países.
O relatório foi divulgado na semana que antecede a 2ª Cúpula Mundial da Coalizão de Alimentação Escolar, marcada para os dias 18 e 19 de setembro, em Brasília — considerado o maior encontro global sobre o tema.
