
A Junta Comercial de Mato Grosso do Sul (Jucems) vai começar a utilizar inteligência artificial (IA) para analisar processos de abertura, fechamento e alterações contratuais de empresas no Estado. A nova ferramenta tecnológica deve entrar em funcionamento em outubro e promete acelerar o trâmite desses processos, oferecendo mais agilidade, precisão e segurança jurídica para os usuários.

O anúncio foi feito durante reunião do Conselho de Administração da Jucems, realizada na última terça-feira (24), com a presença do secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck. A proposta é lançar oficialmente a novidade durante o Congresso da Federação Nacional das Juntas Comerciais (Fenaju), marcado para setembro, em Mato Grosso do Sul.
“É mais um instrumento que busca exatamente a segurança jurídica, agilidade e eficiência na abertura de empresas no Estado. Nós analisamos a viabilidade e aprovamos”, afirmou Jaime Verruck, que também preside o Conselho Administrativo da Jucems.
Tecnologia aplicada à gestão pública - A implantação do sistema de IA tem como foco inicial os processos de alteração contratual de empresas. A ferramenta fará a análise automática da documentação enviada pelo empresário ou contador, detectando possíveis inconsistências ou divergências entre formulários e documentos.
Caso a IA identifique erros ou dados desencontrados, um alerta de “apontamento” será enviado ao usuário, que poderá corrigir as informações ou optar por seguir com o processo. Se persistirem as inconsistências, o sistema solicitará a revisão manual por um auditor da Junta.
Essa tecnologia já é utilizada pela Junta Comercial do Rio Grande do Sul e faz parte de um convênio da RedeSim Conectada, que envolve nove juntas comerciais em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). A Jucems está adaptando o sistema à sua base de dados para adequá-lo à realidade sul-mato-grossense.
“É um recurso desenvolvido pela Junta Comercial do Rio Grande do Sul, disponibilizado dentro do convênio RedeSim Conectada, que envolve nove Juntas Comerciais em parceria com o Sebrae, que fez toda transformação digital de nossa Junta e que agora avança trazendo ainda mais modernidade e celeridade nos processos digitais já implantados”, explicou o presidente da Jucems, Nivaldo Domingos da Rocha.

Digitalização impulsiona recordes - O uso de tecnologias digitais e a simplificação dos processos têm proporcionado resultados concretos. Segundo dados apresentados na reunião, somente entre 1º de janeiro e 18 de junho deste ano, foram abertas 6.507 empresas em Mato Grosso do Sul — um aumento de 13,6% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram registrados 5.727 novos CNPJs.
O ritmo de crescimento se mantém constante mês a mês. Em janeiro, foram 1.298 aberturas; fevereiro, 1.251; março, 1.201; abril, 1.118; maio, 1.003; e, até 18 de junho, 636 novos registros, com expectativa de superar novamente a marca dos mil no fechamento do mês.
A digitalização dos serviços tem sido apontada como fator determinante para esse desempenho. Hoje, a maioria dos processos da Jucems já é realizada de forma digital, o que reduz custos, burocracia e o tempo médio de tramitação.

Preocupações com mudanças federais - Durante o encontro, os conselheiros também discutiram uma portaria recente da Receita Federal que pode impactar negativamente os avanços conquistados com a digitalização. A norma prevê que a emissão do CNPJ passe a ser feita separadamente do processo de registro da empresa, o que, segundo a Jucems, representaria um retrocesso na integração promovida pela RedeSim.
Atualmente, o número do CNPJ é gerado automaticamente junto com o registro empresarial, agilizando todo o processo. Com a mudança, empresários teriam que acessar o sistema da Receita Federal para finalizar a abertura da empresa, o que pode gerar atrasos e aumentar a burocracia.
O secretário Jaime Verruck manifestou preocupação com a medida e propôs levar o assunto à próxima reunião do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae. A ideia é elaborar uma proposta conjunta para ser levada ao Conselho Nacional do Sebrae, ao Ministério da Fazenda e à direção da Receita Federal.
“Precisamos garantir que os avanços da digitalização e simplificação não sejam comprometidos por decisões isoladas. Vamos atuar institucionalmente para que essa exigência seja revista”, afirmou Verruck.
A expectativa é que o tema também seja abordado durante o Congresso da Fenaju em setembro, evento que reunirá representantes de todas as juntas comerciais do país em Mato Grosso do Sul.
Um novo marco na transformação digital - Com a implementação da inteligência artificial, a Jucems dá mais um passo na consolidação de um modelo de atendimento moderno, ágil e com foco na experiência do usuário. A tecnologia deve reduzir ainda mais o tempo necessário para a análise de documentos e permitir que os auditores se concentrem em casos mais complexos, enquanto o sistema automatizado cuida da maior parte dos processos rotineiros.
A digitalização da Junta, promovida com apoio técnico do Sebrae, já é considerada referência nacional e tende a se consolidar como modelo para outros estados com a nova etapa de inovação tecnológica.
