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EDUCAÇÃO

Trabalho durante os estudos eleva alfabetização entre jovens, aponta pesquisa

Levantamento revela que jovens que conciliam trabalho e estudo têm desempenho muito superior em leitura e matemática em relação aos que não trabalham

12 agosto 2025 - 05h34
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Terça da Carne

Conciliar trabalho e estudo formal aumenta significativamente as habilidades de leitura e matemática entre jovens brasileiros de 15 a 29 anos, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF). O levantamento mostra que 65% dos jovens que estudam e trabalham apresentam níveis adequados de alfabetismo, contra 43% entre aqueles que apenas estudam, 45% entre os que apenas trabalham e 36% entre os que não estudam nem trabalham.

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O estudo aponta que apenas 35% da população acima de 15 anos no país possui alfabetização consolidada — capacidade de interpretar textos complexos e lidar com informações implícitas e operações matemáticas mais avançadas. Outros 36% estão no nível elementar, compreendendo textos de média extensão e realizando operações básicas até a casa do milhar. Já 29% são considerados analfabetos funcionais.

Apesar de avanços, os números mostram um crescimento lento e estável nos últimos anos, reforçando a necessidade de políticas públicas voltadas a grupos vulneráveis, especialmente pobres, negros e indígenas.

Para Ana Lima, coordenadora do estudo, o ambiente de trabalho físico proporciona oportunidades importantes para o desenvolvimento de competências.
“É no trabalho que você convive com alguém que sabe mais que você, que tem um processo, um método, um caminho. Aí, há um colega que te ajuda, alguém que você ajuda e sabe mais do que ele, isso tudo são exercícios que te auxiliam a desenvolver habilidades de vários tipos, inclusive essas que a gente mede, que são de leitura escrita e matemática”, afirma.

A especialista observa que o trabalho remoto ou a falta de ocupação reduzem essas oportunidades, o que pode limitar o avanço das habilidades cognitivas.

Embora a pesquisa não comprove causalidade direta entre trabalhar e melhorar a proficiência, Ana Lima avalia que há benefícios nos dois sentidos: jovens com alfabetização consolidada têm mais chances de se inserir no mercado de trabalho, mas também aqueles que entram nesse ambiente sem tal domínio tendem a desenvolver competências de leitura e escrita.

A preocupação, no entanto, é que os avanços ainda não acompanham as demandas do mercado, que está cada vez mais tecnológico e menos manual.
“Esse avanço é insuficiente para atender à qualificação que o empregador espera e para trazer a realização que o trabalhador espera, pois ele também investiu mais tempo nos estudos. Há frustrações dos dois lados”, pondera Lima.

A pesquisadora defende a reestruturação da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que perdeu força na última década, adaptando-a ao novo perfil de estudantes. Hoje, a modalidade serve principalmente a jovens que interromperam os estudos para trabalhar e agora buscam conciliar as duas atividades.

Segundo Lima, a formação profissionalizante e as parcerias com empresas e sindicatos podem ser decisivas para a inclusão de jovens com baixa escolaridade no mercado.

A pesquisa também destaca a desigualdade no acesso a estudo e trabalho entre diferentes grupos sociais. Entre mulheres jovens com analfabetismo funcional, 42% não estudam nem trabalham, enquanto entre homens na mesma condição o índice cai para 17%. Já 56% dos homens analfabetos funcionais trabalham, cenário que o estudo associa ao peso dos cuidados familiares na vida das mulheres.

No recorte racial, 17% dos jovens negros são analfabetos funcionais, contra 13% dos brancos. Entre os que possuem alfabetismo consolidado, o índice é de 40% para negros e 53% para brancos. Embora o levantamento não traga o cruzamento específico entre gênero e raça, pesquisas anteriores indicam que a situação é ainda mais crítica para mulheres negras.

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