
Um incêndio florestal de grandes proporções atinge a região mediterrânea da França desde a tarde de terça-feira (5) e segue fora de controle nesta quarta-feira (6), segundo autoridades locais. Com início próximo à vila de Ribaute, na região de Aude, perto da fronteira com a Espanha, o fogo se espalhou por cerca de 11 mil hectares, uma área equivalente ao tamanho da cidade de Paris, em menos de 12 horas, tornando-se o maior incêndio florestal registrado no país neste verão.

A rápida propagação do fogo causou a morte de uma pessoa, que estava em casa e não conseguiu escapar das chamas. Outras nove pessoas ficaram feridas e pelo menos uma segue desaparecida, de acordo com a administração local.
Cerca de 1.500 bombeiros foram mobilizados para tentar controlar as chamas durante a noite, mas os esforços foram dificultados pelas condições climáticas adversas, incluindo temperaturas elevadas, ventos fortes e baixa umidade. “O incêndio continua muito ativo e o clima não ajuda”, informou a prefeitura da região em comunicado oficial divulgado na manhã desta quarta-feira.
A região de Aude, que combina paisagens montanhosas, campos agrícolas e florestas secas pelo verão, tornou-se um verdadeiro campo de batalha para as equipes de emergência. Além do combate terrestre, aviões-tanque e helicópteros de combate a incêndios foram utilizados desde o início da crise.
Centenas de moradores foram retirados de suas casas como medida de precaução. Abrigos temporários foram montados em ginásios e centros comunitários. “Foi tudo muito rápido. Quando percebi, o céu já estava laranja e uma fumaça espessa cobria a cidade”, relatou uma moradora de Ribaute, que teve sua casa poupada por pouco.
Além dos danos materiais e ambientais, o incêndio ameaça importantes áreas de cultivo e reservas naturais. Agricultores relatam perdas irreparáveis em plantações e pastagens, e especialistas temem impactos severos na fauna local.
Especialistas atribuem a intensidade do incêndio às mudanças climáticas. “A combinação de ondas de calor mais longas, secas intensas e ventos fortes cria condições ideais para que incêndios se espalhem rapidamente e sejam difíceis de controlar”, explicou um porta-voz do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia.
Segundo o serviço europeu, a Europa é o continente que mais aquece no mundo, com temperaturas aumentando duas vezes mais rápido do que a média global desde a década de 1980. Esse cenário agrava a vulnerabilidade das áreas mediterrâneas, como o sul da França, que se tornam cada vez mais propensas a incêndios florestais devastadores.
“Os incêndios não são apenas uma questão ambiental, mas também um problema de saúde pública, segurança e planejamento urbano. Precisamos de políticas mais robustas de prevenção e adaptação”, alertou a climatologista francesa Marie Lapierre, em entrevista à emissora pública France 2.
A França, assim como vários países do sul da Europa, vem enfrentando verões cada vez mais quentes e secos. Em julho, diversas regiões francesas já haviam registrado temperaturas acima de 40ºC, com alertas vermelhos emitidos por risco de incêndios florestais.
Dados do sistema europeu de monitoramento mostram que, em 2023, o país perdeu mais de 70 mil hectares de vegetação para incêndios, um aumento significativo em relação à média da última década. Com o evento desta semana, a expectativa é que o verão de 2025 supere novamente os números anteriores.
Governos locais têm sido pressionados por ambientalistas e pela população para aumentar os investimentos em prevenção, como criação de aceiros, replantio de espécies resistentes ao fogo, monitoramento via satélite e campanhas de conscientização.
O governo francês anunciou o envio de reforços às equipes de emergência na região de Aude. O ministro do Interior, Gérald Darmanin, lamentou a morte da vítima e prometeu suporte às famílias afetadas. “Estamos mobilizando todos os recursos necessários para conter o incêndio e proteger vidas. A prioridade é salvar pessoas e impedir que o fogo avance para outras localidades”, declarou.
Darmanin também reforçou o alerta para outras regiões do país, como Provença-Alpes-Côte d'Azur e Occitânia, que permanecem sob alto risco de incêndios nas próximas semanas. Em pronunciamento, ele pediu que a população evite atividades de risco, como queimadas agrícolas ou o uso de fogo em áreas de camping.
O incêndio em Ribaute evidencia o que cientistas vêm alertando há anos: os eventos extremos se tornarão cada vez mais frequentes e severos. A comunidade científica aponta que, sem ações coordenadas e eficazes de mitigação das mudanças climáticas, situações como essa deixarão de ser exceção para se tornarem regra.
“Não estamos apenas enfrentando incêndios, mas colhendo os efeitos de décadas de negligência ambiental”, concluiu a pesquisadora Marie Lapierre.
Enquanto as chamas continuam consumindo o sul da França, a tragédia serve de alerta para a Europa e o mundo sobre os riscos crescentes de um planeta em aquecimento.
