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CAMPANHA TODOS POR ELAS

Grupo Pereira entra na luta contra o feminicídio com ações nas lojas e bastidores

Rede varejista adere à campanha 'Todos por Elas' e leva para dentro de suas lojas o debate que muitas empresas ainda evitam: a violência doméstica

15 agosto 2025 - 13h45Redação
Jaceguara Dantas da Silva, coordenadora da campanha e Beto Pereira, presidente do Grupo Pereira
Jaceguara Dantas da Silva, coordenadora da campanha e Beto Pereira, presidente do Grupo Pereira - (Foto: Matheus Rodrigues/Grupo Pereira)

Uma assinatura virou símbolo de uma escolha. A escolha de não se calar. De não fingir que o problema é dos outros. De entender que, quando uma mulher apanha em casa, a empresa onde ela trabalha também sangra, mesmo que não veja.

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Foi nessa toada que o Grupo Pereira — dono das redes Comper, Fort Atacadista, Trudy’s e outras tantas bandeiras conhecidas nos corredores do varejo — firmou sua adesão à campanha Todos por Elas, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

São 22 mil funcionários espalhados por sete estados. Um exército de gente que empurra carrinho, organiza prateleira, atende no caixa, abastece estoque e passa o dia entre códigos de barras e metas. A maioria é mulher. E muitas vivem, ou conhecem de perto, o silêncio e o medo que a violência doméstica impõe.

A campanha começou discreta, com spots nas rádios internas das lojas. Aos poucos, os recados se espalharam pelos tabloides, pelas telas das lojas e pelos refeitórios. Painéis de LED exibem frases de apoio, QR codes levam direto a canais de denúncia, e até o selo Eu Apoio Essa Causa virou parte da decoração. Mas não é só fachada.

Para 2025, está previsto um bate-papo online com especialistas e representantes do TJMS. O objetivo: ensinar os líderes a identificar sinais, acolher e ajudar. Porque, como diz o presidente do grupo, Beto Pereira, “se um colaborador tem um problema, a empresa também tem um problema”.

A frase soa como clichê corporativo até que se escuta o tom com que ele diz. Beto cresceu em uma casa onde respeito não era discurso, era prática. Viu o pai tratar a mãe com gentileza e silêncio respeitoso. “Nunca levantou a voz pra ela”, ele conta, com a calma de quem sabe a diferença entre autoridade e autoritarismo.

 Beto Pereira assina termo de adesão à Campanha Todos por Elas  (Foto: Matheus Rodrigues/Grupo Pereira) Beto Pereira assina termo de adesão à Campanha Todos por Elas (Foto: Matheus Rodrigues/Grupo Pereira)

Na prática, o Grupo Pereira decidiu que seu ambiente de trabalho precisa ser mais do que seguro — precisa ser atento. A violência doméstica, afinal, não avisa quando vai bater à porta. Ela chega de mansinho, com atrasos no horário, olhares vazios, pedidos de folga sem explicação. Muitas vezes, tudo o que uma vítima precisa é que alguém perceba.

“A gente quer que os líderes entendam que cuidar de pessoas vai muito além da função profissional”, resume Beto. Ele não fala em tom messiânico. Fala como quem tem um sistema de 173 unidades funcionando todo dia e sabe que, sem pessoas inteiras, nenhuma engrenagem roda direito.

A campanha Todos por Elas nasceu na Coordenadoria da Mulher do TJMS. A desembargadora Jaceguara Dantas da Silva, coordenadora da ação, é categórica: “O enfrentamento à violência contra a mulher não pode ser responsabilidade só do Estado”. Ela recita os números que fazem a urgência parecer incontornável: 23 feminicídios e 41 tentativas em Mato Grosso do Sul só neste ano.

Mas, mais do que números, ela fala de cultura. De mudar o modo como o homem se vê em relação à mulher. De mostrar, na prática, que ela não é posse, não é objeto, não é propriedade.

É nesse ponto que a parceria com o Grupo Pereira ganha potência. Não é só pelo tamanho da empresa. É pela capilaridade. Lojas em São Paulo, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, além de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. São supermercados, atacadistas, farmácias, restaurantes, distribuidoras, agências de viagem, postos de combustível e até serviços financeiros.

Cada um desses lugares agora é, também, um ponto de contato com a informação, com o acolhimento e com a possibilidade de mudança.

O Grupo Pereira pode ser uma engrenagem gigante do varejo nacional. Mas, com essa campanha, decidiu ser também uma peça de um movimento que importa mais: o de tornar as relações humanas mais justas, mais atentas e, quem sabe, mais gentis.

Talvez não resolva tudo. Nenhuma campanha resolve. Mas, como disse a própria desembargadora, às vezes, é uma palavra, um gesto, um QR code no canto da tela — qualquer coisa que diga “você não está sozinha” — que pode fazer a diferença.

E isso, convenhamos, já é muita coisa.

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