
Uma manhã de trabalho tranquila em um salão de beleza no centro de Campo Grande virou motivo de correria e susto. Por volta das 6h, a funcionária responsável pela limpeza encontrou um animal peludo dentro de um balde, ainda sonolento ou sem conseguir sair por conta própria. O que parecia ser um lixo incomum era, na verdade, um gambá — e o episódio rapidamente mobilizou toda a equipe do salão.

“Foi um susto danado. A moça gritou e começou a passar mal. Ninguém sabia o que fazer”, contou o cabeleireiro Leonardo Martinez. Após o primeiro contato com o Corpo de Bombeiros, a equipe foi orientada a acionar a Polícia Militar Ambiental (PMA), que realizou o resgate do animal.
Segundo os agentes, o gambá não apresentava ferimentos, mas por estar em um local fechado e com movimentação intensa, a retirada foi considerada a melhor opção.
Gambá encontrado no salão - (Foto: Bruno Rezende)
De acordo com a PMA, não é raro que animais silvestres apareçam em regiões urbanas, especialmente em áreas próximas a matas, rios e córregos. Em muitos casos, eles estão apenas em busca de alimento e voltam sozinhos ao seu habitat.
No entanto, quando o animal está machucado, preso ou representa algum tipo de risco, a recomendação é sempre acionar as autoridades ambientais. O sargento Wagner da Silva Azevedo, que coordenou o atendimento, reforça: “Nosso protocolo é sempre ouvir quem ligou, entender a situação e avaliar se é mesmo necessária a captura. Às vezes o melhor é apenas deixar o animal ir embora.”
Animais silvestres convivem cada vez mais com a população
O número de atendimentos da PMA envolvendo fauna silvestre é expressivo. Somente entre janeiro e junho deste ano, a instituição atendeu 1.513 ocorrências na Bacia do Paraguai. Em Campo Grande, foram 559 casos, sendo 176 animais saudáveis e 131 feridos.
Aves lideram os registros, representando 59% das ocorrências na capital, seguidas por mamíferos (24%) e répteis (17%). Em aproximadamente 20% dos casos, os animais não precisaram ser capturados.
Segundo a PMA, muitos desses animais já estão adaptados ao ambiente urbano e transitam por ele com naturalidade. Gambás, capivaras e quatis, por exemplo, são espécies comuns em regiões com vegetação e proximidade de água.
Gambá foi levado pela PMA e depois reintegrado ao seu habitat - (Foto: Bruno Rezende)
O que fazer (e o que não fazer) ao encontrar um animal silvestre
A orientação principal é não tentar manipular o animal. Mesmo quando parecem inofensivos, como o gambá do salão, eles podem agir com instinto de defesa e morder. A recomendação é manter distância, não oferecer alimentos e evitar qualquer tipo de interação.
“Dar comida a um animal silvestre, por mais bem intencionado que seja, é considerado crime ambiental”, alerta o sargento Azevedo. A alimentação humana desequilibra os hábitos naturais da fauna e pode atrair ainda mais animais para áreas urbanas, aumentando os riscos de acidentes.
Além disso, é importante manter o ambiente doméstico limpo e sem alimentos expostos no quintal, especialmente em regiões próximas a matas e reservas. Rações de pets também podem atrair animais silvestres, o que pode gerar conflitos entre espécies.
Com o crescente afeto das pessoas por animais domésticos, a PMA tem reforçado a necessidade de distinguir o cuidado com pets e a relação com animais da fauna silvestre. Por mais dócil que um animal pareça, ele pertence à natureza e não deve ser domesticado ou tratado como mascote.
A tentativa de acolher um animal ferido ou fora do habitat pode causar mais danos do que ajuda. Em casos específicos, como filhotes de aves em período de reprodução, a retirada pode prejudicar o processo natural de aprendizado do voo, algo comum a partir de setembro.
Quando a captura é necessária
A PMA só realiza a captura quando o animal está machucado, em risco ou representa algum perigo à população. Em caso de necessidade de resgate, o animal é encaminhado ao CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), onde recebe atendimento veterinário antes de ser devolvido à natureza.
No caso do salão de beleza em Campo Grande, a retirada foi feita por precaução, já que o gambá estava preso e não conseguia sair do ambiente sozinho.
“Eles têm hábitos noturnos, saem à procura de comida durante a noite. Provavelmente entrou ali e não encontrou mais o caminho de volta. Não são agressivos, mas se forem acuados, podem se defender”, explicou o sargento Azevedo.
Fique atento e saiba como agir
O caso do gambá serve como um alerta importante: animais silvestres fazem parte do nosso ecossistema e a convivência com eles exige responsabilidade e respeito. Diante de qualquer situação semelhante, a recomendação é sempre procurar a Polícia Militar Ambiental ou os Bombeiros, evitando agir por conta própria.
A natureza está cada vez mais próxima dos centros urbanos. Entender isso é essencial para garantir a segurança dos animais e das pessoas.
