
A França viveu mais um dia de tensão nesta quarta-feira (10), quando manifestantes bloquearam estradas, incendiaram veículos e enfrentaram a polícia em Paris e outras cidades. Os atos, convocados pelo movimento “Bloquons Tout” (“Bloquear Tudo”), ocorreram logo após a renúncia de François Bayrou e a nomeação de Sébastien Lecornu como novo primeiro-ministro pelo presidente Emmanuel Macron.

Segundo o Ministério do Interior, pelo menos 250 pessoas foram presas nas primeiras horas dos protestos. Em Paris, a polícia dispersou grupos que tentavam bloquear vias expressas na hora do rush, usando gás lacrimogêneo. Barricadas feitas com lixo e objetos arremessados contra policiais também marcaram os confrontos, que resultaram em 159 detenções apenas na capital.
No restante do país, houve registros de violência em cidades como Marselha, Lille, Caen, Nantes, Rennes, Grenoble e Lyon. Em Rennes, um ônibus foi incendiado, enquanto no sudoeste danos a cabos elétricos interromperam serviços de trem em uma linha e atrasaram outra.
Os protestos refletem o clima de instabilidade que se arrasta desde que Macron dissolveu a Assembleia Nacional no ano passado, o que levou a uma eleição legislativa sem maioria clara no Parlamento. O governo, já fragilizado, enfrenta dificuldades para negociar com oposição à esquerda e à direita.
O movimento de contestação cresceu após Bayrou propor cortes de gastos públicos para reduzir o déficit e sugerir a eliminação de feriados nacionais, medida altamente impopular. Sua queda ocorreu depois de perder um voto de confiança no Parlamento, abrindo espaço para Lecornu, ex-ministro da Defesa, assumir a chefia do governo.
Agora, o novo premiê herda o desafio de conduzir o ajuste fiscal e lidar com a insatisfação popular, enquanto Macron volta a enfrentar protestos de grande escala, ainda que menos intensos do que os coletes amarelos (2018-2019) ou as mobilizações contra a reforma da previdência (2022).
Para parte da população, como resumiu uma manifestante em Paris, há uma sensação de “exaustão compartilhada” diante de um governo que não consegue avançar em soluções para os problemas do país.
