
O chanceler francês, Jean-Noël Barrot, anunciou nesta quarta-feira (30) que 15 países ocidentais assinaram uma declaração conjunta em apoio ao reconhecimento do Estado palestino, um movimento diplomático liderado pelo presidente francês Emmanuel Macron. Entre os signatários estão nações como Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Portugal, Noruega e Finlândia, sendo dez deles países que ainda não reconheciam formalmente a Palestina.

O anúncio ocorre ao fim de uma conferência internacional realizada em Nova York, entre os dias 28 e 29 de julho, organizada por França e Arábia Saudita com o objetivo de revitalizar o apoio à chamada solução de dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina, proposta cada vez mais fragilizada diante da guerra em Gaza e da escalada de violência na Cisjordânia.
“Convidamos aqueles que ainda não se manifestaram a se juntarem a nós”, escreveu Barrot em uma publicação na plataforma X (antigo Twitter). A declaração diplomática fortalece um movimento de pressão internacional em favor do reconhecimento da Palestina como Estado soberano e independente, a ser formalizado durante a Assembleia-Geral da ONU em setembro.
Entre os países que assinaram o documento, 10 ainda não reconheciam oficialmente o Estado palestino: França, Canadá, Austrália, Andorra, Finlândia, Luxemburgo, Nova Zelândia, Noruega, Portugal e San Marino. Já Islândia, Irlanda, Malta, Eslovênia e Espanha, os outros cinco signatários, já haviam reconhecido a Palestina anteriormente.
A entrada de países do G7, como França e Canadá, dá ao movimento uma dimensão inédita. Até o momento, a maioria dos 147 países que reconhecem a Palestina estão na África, América Latina e Ásia. Se concretizado em setembro, o apoio formal de países ocidentais desenvolvidos pode marcar um ponto de virada histórico na diplomacia do Oriente Médio.
O posicionamento mais contundente veio do primeiro-ministro canadense Mark Carney, que confirmou que o Canadá vai reconhecer oficialmente o Estado palestino em setembro. Segundo ele, a decisão está condicionada a reformas por parte da Autoridade Palestina, incluindo a realização de eleições, combate à corrupção e a criação de um Estado desmilitarizado.
A fala de Carney ocorreu após uma ligação telefônica com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. O premiê destacou que a decisão é um passo de responsabilidade diplomática e não deve ser confundida com apoio ao grupo extremista Hamas.
A chancelaria de Israel reagiu duramente. Em nota, afirmou que a mudança na posição do Canadá “é uma recompensa para o Hamas e prejudica os esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns”.
Em paralelo, o novo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, indicou que seu governo poderá reconhecer a Palestina em setembro, caso Israel não adote medidas concretas em Gaza, como um cessar-fogo e a ampliação do acesso humanitário.
Apesar do tom mais cauteloso, Starmer deixou clara a pressão que seu governo pretende exercer sobre Israel: “Estamos prontos para embarcar na proposta francesa, se não houver mudanças substanciais por parte do governo israelense”, afirmou.
As manifestações internacionais obrigaram o governo americano a reafirmar sua posição. Em nota oficial, a Casa Branca declarou que não apoiará o reconhecimento do Estado palestino neste momento, por considerá-lo uma possível recompensa ao Hamas.
“Como o presidente Donald Trump afirmou, o Hamas não deveria ser recompensado. Portanto, ele não vai fazer isso. O foco agora é alimentar as pessoas”, diz o comunicado, com ênfase na situação humanitária em Gaza.
A reação de Washington, porém, foi considerada mais moderada do que esperava o governo de Israel, que vê na diplomacia americana uma aliada estratégica para frear o movimento europeu. O ex-presidente Trump limitou-se a afirmar que “os líderes têm o direito de tomar suas próprias decisões”, referindo-se a Macron e Starmer.
A iniciativa de Emmanuel Macron de liderar a declaração coletiva foi considerada um divisor de águas no cenário internacional. O anúncio de que a França reconhecerá oficialmente o Estado palestino em setembro foi feito na semana passada, durante a abertura da Assembleia-Geral da ONU, e rapidamente provocou um efeito dominó.
Especialistas em diplomacia avaliam que, ao envolver países do Ocidente que antes se mostravam neutros ou cautelosos, Macron conseguiu reacender o debate sobre a viabilidade da solução de dois Estados e desviar a narrativa do domínio exclusivo do conflito armado para o campo das negociações políticas.
O movimento francês também expõe uma possível divisão dentro do G7, grupo que reúne as maiores economias do mundo. Até agora, Estados Unidos, Japão, Alemanha e Itália ainda não endossaram o reconhecimento da Palestina.
A proposta da criação de um Estado palestino ao lado de Israel, com fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas, tem sido há décadas o principal paradigma para a paz no Oriente Médio. No entanto, com a intensificação da guerra em Gaza e a expansão de assentamentos israelenses na Cisjordânia, muitos analistas consideram a solução cada vez mais difícil de ser implementada.
Apesar disso, os países signatários da declaração acreditam que o reconhecimento formal da Palestina pode dar novo fôlego à negociação de paz, fortalecer os moderados dentro da Autoridade Palestina e isolar grupos extremistas.
Resta agora saber quantos outros países aderirão à declaração nas próximas semanas e como será a reação final de Israel, Estados Unidos e demais membros do G7 diante do que promete ser uma das maiores viradas diplomáticas dos últimos anos.
