
O youtuber Felca foi um dos entrevistados do programa Altas Horas, da TV Globo, exibido na noite de sábado (16). Conhecido pelo vídeo em que denuncia a chamada “adultização” de crianças na internet, ele falou sobre a repercussão do material, as ameaças recebidas e defendeu que o combate à exploração infantil passa também pela iniciativa de cada indivíduo em denunciar abusos.

“Causou um movimento tão gigantesco que, agora, nesse momento, está sendo meio nebuloso, meio difícil de cair a ficha. Mas é um convite para as pessoas que estão assistindo entenderem que vocês têm voz. Existe um poder nas pessoas”, disse Felca, ao comentar o impacto do vídeo publicado em agosto.
Durante a entrevista, o influenciador relembrou que sonhava em trabalhar com internet desde os 12 anos, mas foi orientado pelos pais a esperar. “Fiquei revoltado por um tempo. Hoje quando olho para trás eu entendo muito bem e agradeço aos meus pais”, contou.
Segundo ele, a decisão dos pais foi importante para que tivesse maturidade ao entrar no ambiente digital. “Meus pais falaram: muito bacana o que você tá fazendo, apoio, mas ainda é muito cedo. Tem que esperar um pouco mais, amadurecer, nesse ambiente que você está entrando talvez não entenda tudo”, relatou.
Felca explicou que a motivação para criar o vídeo veio da indignação ao observar o crescimento de conteúdos envolvendo crianças. “Um conteúdo que se eu mostrasse para você sem dar o contexto, você ia falar que é inocente. Mas existiam pedófilos cantando aquelas crianças”, disse.
O youtuber destacou que muitas vezes produtores de conteúdo usam estratégias que acabam por adultizar crianças de forma proposital. Para ele, menores de idade não deveriam produzir para internet: “A exposição não é algo fácil de lidar. A criança não está preparada para receber críticas, assédio e ataques virtuais. Internet é um ambiente para adultos”.
O vídeo “adultização” viralizou em 7 de agosto e provocou grande repercussão. Após sua publicação, denúncias sobre exploração infantil dispararam e chegaram ao Congresso, unindo parlamentares de diferentes espectros políticos.
Entre os citados, estava o influenciador Hytalo Santos, preso dias depois em Carapicuíba (SP) ao lado do marido, Israel Vicente, acusado de exploração sexual infantil e tráfico humano. A defesa nega os crimes e pede a revogação da prisão.
Questionado por uma pessoa da plateia sobre por que o caso demorou tanto a ganhar proporção, Felca respondeu: “Existiam muitas pessoas falando sobre. Acho que faltou uma mobilização mais numerosa, mesmo. Foi uma questão de alcance que atingiu”.
O youtuber também comentou os bastidores da produção, que levou cerca de um ano. “Com certeza, o mais difícil foi reunir as informações. Tive que fazer pausas para cuidar da saúde mental em meio ao contato com um tema tão aversivo”, disse.
Sobre as ameaças recebidas, afirmou que já esperava ataques. “Alguns pedófilos que se incomodaram pessoalmente vão se sentir atacados e bater de frente. Mas, sinceramente, quem tem que ter medo são eles, não a pessoa que está denunciando”, disse.
Felca contou ainda que temia ser alvo de processos na Justiça, mas avaliou que a repercussão positiva foi maior: “Se estão dando luz para essa causa, acho que pode haver mudanças”.
Para o influenciador, o combate passa pela mobilização de indivíduos. “Existe o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e leis para proteção. O que esses criminosos fazem são crimes. Acho que o melhor movimento é a iniciativa do indivíduo em denunciar”, defendeu.
Ele completou: “Ir atrás, reunir provas e pesquisas e denunciar. Se tudo der certo, a gente consegue uma mudança no algoritmo para que esses conteúdos não sejam capazes de chegar no seu feed”.
Além de Felca, participaram do programa o humorista Fábio Porchat, a atriz Paolla Oliveira e o jornalista Caco Barcellos. A parte musical contou com Gloria Groove e Xamã.
