No Pantanal, o tempo parece andar mais devagar, e a cidade, mais longe. Em algumas áreas, ela está a mais de 20 horas de distância. Foi nesse cenário, cercado de mato, água e silêncio, que a Expedição Alma Pantaneira estacionou no último sábado (22), levando médicos, dentistas, medicamentos e acolhimento à Fazenda Santa Cruz, lugar que já pertenceu ao poeta Manoel de Barros.
Ali, onde o poeta escreveu versos sobre passarinhos e inutilidades, cerca de 800 atendimentos foram feitos. Consultas, limpezas, restaurações, diagnósticos. Tudo gratuito. Não só para quem mora na fazenda, mas também para famílias vizinhas que viajaram horas até ali. Entre os atendidos, estava Manoel Wenceslau de Barros, neto do poeta, conhecido por todos como Manoelzinho. “Quando dá pra ir à cidade, é difícil marcar uma consulta. Ter essa equipe maravilhosa atendendo aqui no Pantanal nos ajuda muito. É uma prova de amor com o povo pantaneiro”, disse.
A expedição não começou ali. A Alma Pantaneira já passou por outros cantos da planície alagada, onde raramente se vê uma ambulância ou um consultório. Desde os primeiros atendimentos na Escola das Águas Santa Mônica, já são mais de dois mil procedimentos realizados. Médicos e dentistas enfrentam distâncias e dificuldades para chegar a lugares onde não há posto de saúde nem farmácia. Mas onde há gente precisando.
Expedição Alma Pantaneira leva atendimento médico e odontológico a famílias isoladas no Pantanal, passando pela antiga fazenda de Manoel de Barros.Entre os beneficiados estão crianças, professores, peões e famílias inteiras, muitas das quais vivem sem acesso contínuo a serviços de saúde. A cada parada, a expedição reafirma o compromisso de levar dignidade onde o Estado raramente chega. Um gesto que mistura logística, sensibilidade e compromisso — tudo na mesma bagagem.
No último domingo (23), a equipe seguiu rumo à Fazenda Carmem, na região da Nhecolândia, um dos corações do Pantanal sul-mato-grossense. Os atendimentos continuam por lá, com a mesma rotina de consultas, orientações e entrega gratuita de medicamentos. A jornada da Alma Pantaneira se estende até o dia 1º, com novas paradas previstas ao longo do caminho.
Em cada rosto atendido, um pedaço da missão se cumpre. Em cada região visitada, uma história se escreve. O cuidado chega como verso livre, feito na margem de um rio, longe da cidade, mas perto da vida.
