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Historia

Ex-servente de pedreiro vence barreiras e torna-se renomado arquiteto da Capital

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Raymundo trabalhou como servente de pedreiro na edificação da igreja Santa Cecília, em Campo Grande.
Raymundo trabalhou como servente de pedreiro na edificação da igreja Santa Cecília, em Campo Grande. - Divulgação

E o arquiteto, Raymundo Barizon, sabe muito bem o peso de cada um deles. “A gente é aquilo que a gente quer ser”, foi com esta frase que um dos mais respeitados e conceituados arquitetos de Campo Grande começou a contar sua exemplar e motivadora história de vida ao Jornal A Crítica.

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Gaúcho de São Marcos, Raymundo foi vendedor ambulante, engraxate e pasteleiro. Começou a carreira de arquiteto no cargo mais humilde da hierarquia da construção. Trabalhou como servente de pedreiro na edificação da igreja Santa Cecília, em Campo Grande. Na ocasião, a obra era de Celso Costa, um dos maiores nomes da arquitetura da Capital, e reconhecido internacionalmente.

O que era para ser um dia como outro qualquer na vida do então jovem Raymundo, se tornou o ponto inicial para a realização de um grande sonho, que, num futuro não tão próximo, seria realizado com muito esforço e determinação.

No decorrer do expediente, o servente de pedreiro questionou um colega de trabalho sobre alguns detalhes arquitetônicos. Foi então informado que o arquiteto, Celso Costa, era quem poderia responder suas perguntas. Sem saber quem era Celso Costa e muito menos o que ele significava, foi questioná-lo sobre suas dúvidas. Sem muito tempo a “perder”, Costa pediu que Raymundo fosse em seu escritório para que pudesse explicar melhor sobre os questionamentos do trabalhador, certo de que o servente de pedreiro não iria fazê-lo.

Alguns dias depois, Raymundo foi até Celso Costa, que explicou a ele sobre a profissão da arquitetura. Sem saber que anos mais tarde o tempo se encarregaria de cruzar seus caminhos novamente, o servente de pedreiro deixou o escritório de Celso Costa com um único objetivo: estudar e ser arquiteto! Aos 23 anos, ao retornar para o trabalho, o servente virou alvo de piada entre os colegas. “Eles riam de mim, me chamaram de ‘oreia seca’ e não acreditavam quando eu dizia que ainda ia me tornar um arquiteto”, relembra.

Para conseguir realizar seu sonho profissional, Raymundo teve que morar no Paraguai, onde estudou arquitetura na Universidade Nacional de Assuncion. Mesmo sem saber falar os idiomas daquele país (espanhol e guarani), o brasileiro levou apenas uma mochila nas costas e uma carga extra de determinação e força de vontade. “Fui para o Paraguai sem dinheiro, mas sem desistir do meu sonho”, afirma.

No País vizinho fez um pouco de tudo, lustrou sapatos e revendeu materiais de arquitetura como régua, compasso e livros didáticos que trazia do Brasil, já que algumas matérias eram ministradas em português. A universidade era pública e gratuita.

Raymundo estudou no Paraguai até 1985, quando conseguiu a transferência para Campo Grande, na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, hoje Anhanguera-Uniderp.

No decorrer do curso, já em Campo Grande, o então estudante teve como professor, pela segunda vez, Celso Costa. “Quando eu o vi, não falei nada, fiquei na minha”, conta Barizon.

No último ano de faculdade, já trabalhava como desenhista em um escritório de arquitetura e ainda vendia pasteis para ajudar a pagar a mensalidade.

Somente então no dia da apresentação de sua tese, no trabalho de conclusão de curso, foi que Raymundo resolveu revelar que alí, na composição da bancada, estava presente uma das pessoas de maior influência na vida profissional do estudante, Celso Costa, que na ocasião era diretor geral da universidade e presidia a mesa que julgaria os trabalhos. Celso Costa não sabia que Raymundo era ex-servente de pedreiro e muito menos que havia trabalhado em uma de suas obras.

“O senhor não se lembra de mim, mas eu me lembro do senhor”, conta, já tomado pela emoção, Raymundo Braizon. “Aí fiz a minha introdução e disse que era peão. Eu disse que se conseguisse a aprovação seria uma honra porque iria me tornar colega de Celso Costa. Quando acabou, ele me perguntou: da onde te conheço?”, relembra o arquiteto, já com a voz embargada.

Em 1987, aos 32 anos, Raymundo se formou. “Para quem saiu do zero, foi uma vitória. Eu nunca esmoreci, o preço foi caro, mas valeu à pena. A arquitetura sempre foi para a elite, eu quebrei isso”, diz.

Com mais de 500 projetos, Barizon é atualmente um profissional de sucesso. Um dos arquitetos mais conhecidos de Campo Grande, com inúmeros projetos na cidade, assim como em outras regiões de Mato Grosso do Sul, outros estados do Brasil e também no exterior.

Em quase seis décadas vividas, o ex-servente de pedreiro conta que conquistou tudo o que queria. Casado com a paraguaia Graciela Centurion Barizon, tem orgulho das duas filhas, Suzana, de 29 anos e Patrícia, de 26, ambas seguiram o caminho do pai e se tornaram arquitetas.

Chamado de a lenda viva da arquitetura de Mato Grosso do Sul, Celso Costa é autor de inúmeros projetos, incluindo Santa Casa, maternidade Pró Matre e Hospital do Coração – Proncor, os três em Campo Grande.

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