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'Primeira-dama presa': Coreia do Sul vive escândalo político sem precedentes

Kim Keon Hee, esposa do ex-presidente Yoon Suk-yeol, é detida por suspeita de suborno, fraude e interferência política; casal está preso

13 agosto 2025 - 17h30AP*
Ex-primeira-dama da Coreia do Sul, Kim Keon Hee chega ao tribunal para audiência sobre seu mandado de prisão
Ex-primeira-dama da Coreia do Sul, Kim Keon Hee chega ao tribunal para audiência sobre seu mandado de prisão - (Foto: Jung Yeon-je/AFP)

A Coreia do Sul enfrenta um momento histórico e turbulento: pela primeira vez, um casal presidencial está preso ao mesmo tempo por envolvimento em crimes durante o mandato. A ex-primeira-dama Kim Keon Hee foi detida nesta terça-feira, 12 de agosto, acusada de participar de um esquema de suborno, manipulação do mercado financeiro e interferência em processos políticos. Ela é esposa do ex-presidente Yoon Suk-yeol, que também está preso após ser destituído do cargo por tentar instaurar a lei marcial.

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A prisão preventiva de Kim foi autorizada pelo Tribunal Distrital Central de Seul, que considerou haver risco de destruição de provas. Ela será mantida em um centro de detenção na zona sul da capital sul-coreana, em unidade separada daquela onde o ex-presidente cumpre pena.

Segundo as investigações, conduzidas por um promotor especial nomeado pelo atual presidente Lee Jae-myung, do campo liberal, Kim teria usado sua posição de poder para influenciar decisões políticas, beneficiar aliados e até obter vantagens pessoais. O caso envolve múltiplas frentes, incluindo recebimento de presentes de luxo, favorecimento político e crimes financeiros.

Entre as principais suspeitas, Kim teria atuado para influenciar a escolha de um candidato do Partido do Poder Popular — legenda conservadora e base de seu marido — durante as eleições legislativas de 2022. Também há indícios de que ela recebeu presentes valiosos, como um colar de luxo avaliado em US$ 43 mil, supostamente oferecido por um empresário que teve o genro nomeado para um alto cargo no governo pouco depois.

Em sua defesa, Kim nega que a joia tenha sido um presente e afirma que o colar era falso e apenas emprestado para uma viagem oficial à Europa.

A ex-primeira-dama também é investigada por envolvimento em um esquema de manipulação de preços de ações ligado a uma concessionária local da BMW. Além disso, um assessor próximo a ela teria conseguido investimentos milionários para sua própria empresa, explorando a relação com Kim para atrair investidores.

A investigação sobre Kim faz parte de um conjunto de apurações abertas após a destituição de Yoon Suk-yeol. O ex-presidente foi afastado em abril, depois de o Parlamento — com maioria liberal — aprovar seu impeachment por tentativa de impor a lei marcial em dezembro do ano anterior. O Tribunal Constitucional confirmou a decisão, e Yoon foi preso.

Durante sua gestão, Yoon barrou diversas iniciativas para investigar sua esposa, vetando leis que visavam apurações mais profundas. Com sua saída do poder, o novo governo liberou investigações especiais sobre a conduta do casal presidencial e outros episódios controversos, como a morte de um fuzileiro naval em 2023, ainda sem explicação convincente.

O ex-presidente enfrenta agora acusações de rebelião e outros crimes, mas tem evitado responder qualquer pergunta sobre o envolvimento da esposa nas denúncias.

O caso do casal Yoon-Kim já é considerado um marco na história política sul-coreana. Escândalos envolvendo figuras públicas não são novidade no país, mas nunca um ex-presidente e sua esposa haviam sido presos simultaneamente por supostos crimes cometidos durante o exercício do poder.

Para especialistas, o episódio pode provocar um efeito profundo na confiança da população nas instituições. “Trata-se de um caso de alto impacto simbólico, que questiona os limites do poder e a impunidade das elites políticas”, avalia o cientista político sul-coreano Nam Joon-ho, da Universidade Nacional de Seul.

A situação também tem gerado tensões entre os campos conservador e liberal. Enquanto apoiadores de Yoon denunciam perseguição política, os defensores do atual governo alegam que as investigações representam um avanço no combate à corrupção sistêmica no país.

Com a prisão de Kim, a expectativa é de que novas informações surjam nas próximas semanas. Os promotores acreditam que a ex-primeira-dama possa colaborar com as investigações em troca de uma eventual redução de pena. Até o momento, ela tem negado todas as acusações formalmente.

Enquanto isso, Yoon Suk-yeol continua em silêncio sobre os processos que envolvem sua gestão e sua família. A defesa do ex-presidente ainda tenta contestar a legalidade do julgamento que resultou em sua destituição, alegando irregularidades no processo legislativo.

O desenrolar do caso pode redefinir os rumos da política sul-coreana e influenciar as eleições de 2026, já que o atual presidente Lee Jae-myung tenta consolidar sua imagem como líder de um governo de responsabilidade e transparência.

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