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PALESTINA

França anuncia reconhecimento do Estado Palestino na ONU, provocando reação de Israel

Decisão de Macron ocorre em meio à grave crise humanitária em Gaza e aumenta tensões diplomáticas no Oriente Médio

25 julho 2025 - 06h30Redação, O Estado de S. Paulo
O presidente da França, Emmanuel Macron, durante encontro com o premiê do Líbano no Palácio do Eliseu em Paris
O presidente da França, Emmanuel Macron, durante encontro com o premiê do Líbano no Palácio do Eliseu em Paris - (Foto: Geoffroy Van Der Hasselt/AFP)

A França anunciou nesta quinta-feira, 24, que reconheceria o Estado Palestino durante a Assembleia-Geral da ONU, em setembro. A declaração foi feita pelo presidente Emmanuel Macron, que também ressaltou a urgência de cessar a guerra e permitir a ajuda humanitária a Gaza. "Com essa medida, a França busca dar uma contribuição para a paz no Oriente Médio", afirmou Macron em sua conta no X (antigo Twitter).

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O anúncio foi feito em um momento crítico, enquanto a fome e a escassez de recursos se agravam na Faixa de Gaza. O reconhecimento da Palestina pela França gerou forte indignação em Israel. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, reagiu afirmando que a medida “recompensa o terrorismo” e poderia resultar na criação de um Estado aliado ao Irã, o que, segundo ele, colocaria em risco a segurança de Israel. "Um Estado palestino nessas condições seria uma plataforma para aniquilar Israel, não para viver em paz", declarou Netanyahu. Ele ainda afirmou que os palestinos não buscam viver ao lado de Israel, mas no lugar de Israel.

Macron vinha sinalizando há meses sua intenção de reconhecer o Estado Palestino, mas a decisão foi tomada em meio a uma pressão crescente para que Israel encerre a guerra e permita a entrada de ajuda humanitária. A grave crise de fome em Gaza, com milhares de pessoas em risco de morrer de desnutrição, aumentou as tensões diplomáticas. De acordo com a ONU, 45 pessoas morreram nos últimos quatro dias devido à falta de alimentos, água e medicamentos.

Imagens dramáticas de crianças desnutridas e esqueléticas foram amplamente divulgadas nas redes sociais e nos jornais de todo o mundo, gerando uma onda de solidariedade e pressão por um cessar-fogo. A escassez de recursos já afeta 500 mil palestinos, de uma população de 2 milhões em Gaza, com 100 mil pessoas em situação de inanição. Cerca de um terço da população passa dias sem comer.

O porta-voz do governo israelense, David Mencer, minimizou a questão da fome em Gaza, atribuindo a escassez de alimentos ao Hamas. "Trata-se de uma escassez provocada pelo Hamas", afirmou, acusando o grupo de impedir a distribuição de ajuda humanitária e até de roubar parte dessa assistência. O Hamas, por sua vez, negou as acusações.

Desde o início do conflito, Israel tem restringido a entrada de alimentos e combustíveis em Gaza, e entre março e maio chegou a bloquear completamente a distribuição de ajuda humanitária, exacerbando ainda mais a situação de privação da população.

No campo diplomático, a trégua em Gaza entrou em um impasse após Netanyahu retirar seus negociadores das conversações de paz em Doha. O enviado dos EUA, Steve Witkoff, acusou o Hamas de não negociar de boa-fé, mas fontes de vários países sugerem que a retirada das negociações pode ter sido uma estratégia israelense para pressionar o Hamas a ceder mais concessões.

Enquanto isso, a União Europeia intensificou sua pressão sobre Israel, ameaçando impor sanções caso o fluxo de ajuda humanitária não aumente significativamente. Alguns países da UE exigiram “medidas concretas” diante da crise humanitária em Gaza.

A decisão de Macron também teve grande impacto político, uma vez que, se concretizada, fará da França o país mais influente a reconhecer oficialmente a Palestina. Até o momento, 147 dos 193 membros da ONU reconhecem o Estado palestino, incluindo várias nações da Otan. A principal exceção continua sendo os Estados Unidos, que têm uma posição forte de apoio a Israel, influenciando aliados como o Canadá, a Austrália e o Reino Unido.

No Reino Unido, o primeiro-ministro, Keir Starmer, tem enfrentado uma pressão crescente dentro de seu gabinete para adotar uma postura similar à de Macron. Starmer afirmou, em declarações recentes, que discutirá a situação com Macron e com o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, para encontrar maneiras de evitar mais mortes de palestinos. “O sofrimento e a fome em Gaza são indescritíveis e indefensáveis", afirmou o premiê britânico, reforçando o apelo por uma ação urgente.

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