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HISTÓRIAS DE VIDA DO TJMS

Ela foi a primeira chefe de cartório da 2ª Vara do Júri da Capital

Aos 70 anos, Irineis de Souza Donatoni recorda que sua história no Poder Judiciário estadual começou em 1981, em um momento muito especial, quando estava no final da gestação de seu segundo filho

14 fevereiro 2022 - 12h00
Aos 70 anos, Irineis de Souza Donatoni recorda que sua história no Poder Judiciário estadual começou em 1981
Aos 70 anos, Irineis de Souza Donatoni recorda que sua história no Poder Judiciário estadual começou em 1981 - (FOTO: Divulgação/TJMS
Terça da Carne

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Aos 70 anos, Irineis de Souza Donatoni recorda que sua história no Poder Judiciário estadual começou em 1981, em um momento muito especial, quando estava no final da gestação de seu segundo filho. Naquele tempo, ela trabalhava no cartório extrajudicial de Glória de Dourados, onde também funcionava a parte judicial, e foi indagada por um amigo advogado se havia se inscrito para participar do primeiro concurso da comarca.

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Em virtude da gravidez avançada, Irineis respondeu que estava ´enorme´, mas o amigo não se conformou com a justificativa. Assim, ele organizou as noites de estudo em sua residência, onde a esposa dele preparava um lanche para a concurseira, enquanto o amigo advogado ditava os conteúdos a serem manuscritos em folha de papel pautado. E a experiência resultou na aprovação de Irineis em primeiro lugar para o cargo de escrevente, sendo admitida em agosto de 1982.


Foram dois anos de serviços prestados na comarca, atuando no mesmo prédio onde já trabalhava, mas agora integrando oficialmente a primeira equipe de servidores públicos do Fórum de Glória de Dourados, composta por mais um escrevente, além do escrivão, dois oficiais de justiça e um distribuidor, contador e partidor. A estrutura física se resumia a uma sala com divisória destinada ao gabinete do juiz, onde também eram realizadas as audiências e os júris populares. O restante do espaço acomodava Ireneis e seus colegas.


"Minha primeira máquina de datilografia era pesada, uma Remington, cedida pelo cartório extrajudicial. Um tempo depois, veio a leveza da Olivetti Linea, agora como maquinário próprio da comarca. Não havia telefone em Glória de Dourados e estávamos isolados, então tudo feito pessoalmente ou por carta. Não tínhamos as facilidades dos dias atuais, mas vivíamos e trabalhávamos muito bem".


Em 1984, o marido de Irineis mudou-se para Campo Grande e, para acompanhá-lo, ela pediu demissão do cargo público, pois naquele tempo não havia remoção ou transferência. E foram três meses como dona de casa na Capital até que, em uma tarde quando levou o caçula para atendimento médico no Hospital São Lucas, avistou da Afonso Pena o topo do prédio do Fórum na Av. Fernando Correa da Costa. E, com o filho nos braços, foi lá e pediu uma oportunidade de retornar ao Judiciário. O telefone tocou dois dias depois e ela foi trabalhar no cartório da 7ª Vara de Família, prestando concurso nos meses seguintes.


E a promoção na carreira pública a levou ao posto de escrivã no início dos anos de 1990 - função hoje equivalente a de chefe de cartório. Lotada na 8ª Vara de Homicídios, cuidava do andamento processual da denúncia até a pronúncia. Nesse tempo, ela explica que havia um cartório exclusivo para os inquéritos e, após a decisão de pronúncia, os processos eram remetidos a uma 3ª vara, que tinha a competência de realizar os julgamentos. Após mudanças administrativas, a vara dos julgamentos se transformou na 1ª Vara do Tribunal do Júri e Irineis merecidamente tornou-se a primeira chefe de cartório da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande.


O andamento do processo era registrado em pequenas fichas pautadas, que ficavam sob a mesa de Irineis. Tudo muito organizado e controlado por ela. E sobre o quantitativo de processos, ela acredita que girava em torno de mil. "Produzíamos relatório mensal, bimestral e semestral. Pegávamos todos os processos do cartório e íamos verificando o andamento de um a um, por ordem de ano e número do feito. Um trabalho inimaginável nos dias de hoje, não é mesmo?".


Antes de se aposentar, em 1996, a chefe de cartório pôde presenciar a chegada do computador. Porém, as mudanças das leis a fizeram optar pela aposentadoria, mesmo no auge da carreira "Foi um período que eu me orgulhei muito do meu trabalho. E o que eu não sabia, eu corria atrás para aprender. Tínhamos uma turma boa de colegas, eu senti muita falta depois. Entretanto, na vida tudo é adaptação. Hoje sou feliz cuidando dos meus netos".

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