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Educação

Educação na prateleira: consumo ou produção?

Ao longo do século XX pudemos acompanhar uma imensa transformação na educação brasileira: dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, enquanto a população brasileira aumentou quatro vezes, a população escolar nacional no mesmo período (de 1940 a 2000) cresceu 20 vezes. São milhões de brasileiros que saíram do campo, das ruas ou das casas para a escola. Hoje, estão matriculados praticamente todos os alunos em idade de frequentar a educação básica. Na outra ponta, o acesso à universidade já não é mais um problema: de 2001 para 2007, o número de ingressos no ensino superior brasileiro aumentou 49,96%, enquanto o número de vagas ofertadas mais que dobrou: 100,50%. Ou seja: as vagas aumentam e a demanda cai.
Mas não é só o número de alunos que cresce; o mercado em torno deles também. Diversos estudos (sobretudo os conduzidos pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) apontam para o desenvolvimento de um verdadeiro mercado para os transportes escolares, segurança escolar, merenda escolar, comercialização de uniformes e de material didático - seja para a escola pública ou privada. Isso sem contar a contratação de professores, psicólogos e pedagogos. Em última análise, esse movimento abre possibilidades de geração de emprego e renda para um imenso contingente de pessoas que, de outra forma, não teriam as mesmas condições de vender sua força de trabalho.

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Na outra ponta, observamos a estruturação de eficientes negócios: hoje uma escola (volto a dizer, seja ela pública ou privada) pode ser caracterizada como uma empresa. Tanto pela eficiência na condução das operações - redução de custos, adoção de manuais didáticos, incorporação tecnológica e treinamento do corpo docente - quanto na definição dos objetivos e mensuração de resultados - combate à alta inadimplência do setor, concorrência e avaliações de desempenho (ENEM, Vestibulares).

É inegável, portanto, a importância social que a escola ocupa, atendendo às necessidades de nosso tempo.

No entanto, as mesmas regras (de mercado) que norteiam todo esse movimento, são responsáveis por um clima nefasto, que paira sobre o que deveria ser o objetivo maior da educação: a qualidade da formação.
Cito alguns exemplos que comprovam tal preocupação: o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) atual coloca o Brasil distante das médias obtidas por países desenvolvidos em avaliações semelhantes - em 2007, apenas 0,8% dos municípios brasileiros estavam no patamar desejado pelo governo brasileiro. Já na educação Superior, para citar o caso mais recente, o Ministério da Educação (MEC) fechou 54% das vagas ofertadas nos cursos de direito em todo o país, no ano de 2008. Nem a Educação a distância escapa: no mesmo ano, o MEC fechou exatos 1.337 pólos de cursos de graduação à distância devido à desqualificação da oferta. Em suma: mais pessoas na escola, ou mais cursos oferecidos não são sinônimo, necessariamente, de pessoas melhor formadas.

O embate nessa relação contraditória leva à missão de resgatar o importante papel da escola enquanto indutor da mudança. A escola é um ambiente (físico ou virtual) profícuo para a transformação. Ela deve firmar-se como uma instância em constante desenvolvimento, pela qual os baluartes sociais e os individuais se constroem e se dissolvem, edificando outros. É ali que os indivíduos se produzem, nas inúmeras relações que estabelecem com o conhecimento e com outros sujeitos.

Em suma: nós que somos pais, educadores, profissionais, cidadãos, temos que exigir que instituição educacional dos novos tempos seja construída sobre sólidos alicerces de justiça, liberdade e fraternidade. Nada mais que antigos valores, mas que garantem nossa existência de maneira pacífica e organizada.

(*) O autor é administrador, Professor Universitário e Diretor de Escola

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