
Uma onda de sobrevoos de drones não identificados sobre o espaço aéreo de países da União Europeia provocou alarme entre autoridades e populações locais nas últimas semanas. Parte das incursões é atribuída à Rússia e tem sido considerada, por ministros europeus da Defesa, como possíveis testes de reação da Otan em meio ao cenário de guerra na Ucrânia.

Um dos episódios mais graves ocorreu no dia 10 de setembro, quando um enxame de drones russos violou o espaço aéreo da Polônia. A ação forçou aeronaves da Otan a decolarem em resposta imediata — os militares conseguiram interceptar e abater alguns dispositivos. Foi o primeiro confronto direto entre forças da aliança e ativos russos desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Dias depois, três aviões de guerra russos também foram escoltados para fora do espaço aéreo da Estônia. Desde então, a frequência de sobrevoos aumentou, inclusive sobre áreas próximas a aeroportos, bases militares e infraestruturas essenciais, como usinas de energia e hospitais.
Diante da escalada, os países da UE anunciaram que pretendem desenvolver uma "barreira de drones" ao longo das fronteiras da aliança para detectar, rastrear e neutralizar futuras incursões. A Rússia nega qualquer envolvimento nos episódios recentes.
Fechamento de aeroportos e pânico
No último sábado (4), o aeroporto de Munique, na Alemanha, foi fechado pela segunda vez em menos de 24 horas após dois novos avistamentos de drones. Cerca de 6.500 passageiros foram afetados. Na Dinamarca, drones causaram grande interrupção no tráfego aéreo no aeroporto de Copenhague em 22 de setembro. A premiê dinamarquesa, Mette Frederiksen, não descartou envolvimento russo e classificou o episódio como "o ataque mais grave à infraestrutura crítica dinamarquesa até o momento".
Na mesma noite, um drone foi avistado nas proximidades do aeroporto de Oslo, na Noruega, obrigando o tráfego a ser desviado para uma única pista. As autoridades investigam uma possível ligação entre os casos.
Bases militares e alvos sensíveis
Entre 24 e 25 de setembro, drones também sobrevoaram quatro aeroportos menores na Dinamarca, sendo que dois deles servem como bases militares. O ministro da Defesa, Troels Lund Poulsen, declarou que os voos foram "sistemáticos" e provavelmente conduzidos por um agente profissional. Avistamentos também foram registrados na Base Aérea de Karup, a maior do país.
Na Alemanha, drones foram vistos sobre uma usina de energia, o hospital universitário de Kiel e instalações da TKMS, fornecedora de defesa marítima. Uma "formação combinada de drones" sobrevoou o hospital e uma usina, e houve relatos sobre prédios do governo e uma refinaria de petróleo na região de Schleswig-Holstein.
Outros avistamentos foram confirmados sobre uma base militar em Sanitz, no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.
Preocupação crescente e novas medidas
Segundo a imprensa europeia, em alguns países como a Dinamarca, o volume de denúncias chegou a 500 em apenas 24 horas — nem todos confirmados. As autoridades avaliam como lidar com a ameaça, inclusive considerando a autorização para abate de drones suspeitos que invadam espaços aéreos sensíveis.
A Otan ainda não emitiu um posicionamento oficial sobre as incursões, mas líderes europeus já defendem ações coordenadas de defesa. Especialistas temem que os sobrevoos façam parte de uma guerra híbrida de vigilância e provocação, que busca testar a reação militar e a vulnerabilidade das redes civis e estratégicas.
