
Na fronteira entre Brasil e Paraguai, onde as estradas de terra se perdem entre plantações e silêncio, a movimentação de veículos fora do horário habitual raramente passa despercebida pelos olhos treinados do Departamento de Operações de Fronteira (DOF). Nesta terça-feira, 24 de dezembro, enquanto boa parte do país se preparava para a ceia de Natal, os policiais do DOF atuavam em outra missão: interceptar 2 mil quilos de drogas, além de recuperar uma Toyota Hilux roubada, apreender outros dois veículos e mais de R$ 23 mil em dinheiro vivo.

A operação ocorreu em Amambai, município no coração da região de fronteira do Mato Grosso do Sul. Sob um calor seco e poeirento, os agentes receberam informações sobre uma movimentação suspeita na Vila Santo Antônio, um ponto já conhecido pelas forças de segurança como rota do tráfico de drogas.
Entre a poeira e os entulhos - Os policiais seguiram os rastros até uma residência modesta, de aparência inofensiva, mas com um fluxo de veículos que não combinava com o entorno tranquilo. Ao adentrarem o local, encontraram não apenas a Toyota Hilux, mas também um Peugeot Like e uma MMC Triton.
Uma breve checagem revelou que a Hilux tinha sido roubada em Maringá, no Paraná, em agosto deste ano — um lembrete de como os crimes de fronteira operam em redes complexas, conectando estados e países.
Entre os bancos dos veículos, nos cômodos da casa e sob lonas improvisadas, estavam os 2 mil quilos de drogas. O montante, avaliado em cerca de R$ 4,3 milhões, é uma fração do gigantesco mercado ilícito que atravessa as fronteiras invisíveis do estado.
Do silêncio ao relatório policial - Ao final da operação, a casa estava vazia de traficantes, mas repleta de evidências. Dois carregadores de armas, somados aos R$ 23 mil em espécie, completavam o cenário. Tudo foi encaminhado à Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes de Fronteira (Defron), em Dourados.
A ação faz parte do Programa Protetor das Fronteiras e Divisas, uma parceria entre a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
Esse programa tem sido peça-chave no enfrentamento ao tráfico internacional de drogas, agindo não apenas com operações ostensivas, mas também com inteligência policial.
A fronteira como palco - O Mato Grosso do Sul, com seus quase 1.500 km de fronteira seca e rios sinuosos com Paraguai e Bolívia, é uma das principais portas de entrada para o tráfico internacional de drogas no Brasil. Por aqui, o fluxo de entorpecentes raramente desacelera. Em algumas regiões, o tráfico se mistura com as atividades cotidianas, borrando as linhas entre legalidade e ilegalidade.
Para os agentes do DOF, cada operação bem-sucedida é uma vitória temporária. O tráfico, com suas engrenagens sofisticadas e muitos rostos anônimos, se adapta rapidamente. No entanto, cada tonelada apreendida é um baque para as redes criminosas e um respiro para a população local.
Canais de denúncia: a participação da sociedade - O DOF mantém uma linha direta para denúncias anônimas, pelo número 0800 647-6300. É um canal aberto 24 horas por dia, sete dias por semana, garantindo total sigilo ao denunciante.
Essa ferramenta tem se mostrado crucial em operações como a de Amambai. Grande parte das apreensões nasce de uma ligação anônima, uma mensagem discreta ou uma pista deixada por alguém que preferiu não se calar.
