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NACIONAL

Polícia trata sumiço de estudante trans como feminicídio em cidade do interior

Jovem de 25 anos está desaparecida desde o Dia dos Namorados; namorado e policial da reserva são investigados e estão presos

14 julho 2025 - 10h35Giovanna Castro
A estudante de Zootecnia da Unesp Carmen de Oliveira Alves, de 25 anos.
A estudante de Zootecnia da Unesp Carmen de Oliveira Alves, de 25 anos. - (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Investigação da Polícia Civil em Ilha Solteira, interior de São Paulo, aponta indícios de feminicídio no caso do desaparecimento de uma estudante da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de 25 anos, que está sumida desde 12 de junho. A jovem, uma mulher trans, teria desaparecido após pressionar o namorado a assumir publicamente o relacionamento entre os dois.

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A principal linha de apuração considera que o desaparecimento da estudante, vista pela última vez ao sair de bicicleta do campus da Unesp, está ligado a conflitos com o parceiro. Ele e um policial militar da reserva, apontado como amante do namorado da jovem, estão presos temporariamente. O paradeiro da vítima ainda é desconhecido.

A polícia afirma ter encontrado no notebook da estudante um dossiê com denúncias contra o namorado. O material teria sido preparado por ela como forma de pressioná-lo, caso ele não assumisse o relacionamento.

Segundo os investigadores, o conteúdo do dossiê foi apagado no mesmo dia em que ela desapareceu. Ainda de acordo com a investigação, o sumiço teria ocorrido logo após a jovem visitar o sítio do namorado, informação confirmada pelo rastreamento do celular dela.

De acordo com o delegado responsável pelo caso, o relacionamento era mantido em segredo, e a vítima vinha cobrando uma mudança de postura. O desaparecimento ocorreu no Dia dos Namorados, data que, segundo relatos colhidos pela polícia, teria intensificado a pressão emocional no relacionamento.

"Havia uma cobrança por parte dela para que o companheiro assumisse a relação. Ele resistia a isso. No dia 12, Dia dos Namorados, essa tensão aumentou, e nossa suspeita é que ele tenha agido motivado por esse confronto", declarou o delegado Miguel Rocha, da Polícia Civil, em entrevista à afiliada da TV Globo.

O caso tem sido tratado como feminicídio, já que a vítima se identifica como mulher. Embora a legislação brasileira não tenha previsão específica para feminicídio contra mulheres trans, há decisões judiciais que consideram a motivação de gênero nesses casos.

Crimes de transfobia envolvem ódio ou preconceito contra pessoas trans, mas quando há indícios de que a vítima foi morta por sua identidade de gênero, o caso pode se enquadrar na categoria de feminicídio, conforme entendimento de alguns tribunais.

Em nota oficial, a Unesp expressou solidariedade à família e à comunidade acadêmica da estudante, que cursava graduação na unidade de Ilha Solteira. "Nos solidarizamos com familiares e amigos neste momento de angústia, guiado por uma investigação que segue a principal linha de feminicídio", diz o texto divulgado pela instituição.

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