
O documentário “The Mystery of Musa al-Sadr”, lançado esta semana pela BBC, investiga o possível paradeiro do clérigo xiita Musa al-Sadr, desaparecido na Líbia em 1978. A produção aponta que um corpo localizado em um necrotério secreto em Trípoli pode ser dele.

Sadr, líder influente no Líbano e defensor do diálogo inter-religioso, viajou à Líbia a convite de Muammar Kadafi em agosto de 1978. O objetivo era pedir a intervenção de Kadafi para proteger civis durante a guerra civil libanesa. Após seis dias de espera, Sadr foi visto sendo levado de um hotel por um carro oficial e nunca mais retornou. As autoridades líbias alegaram que ele teria partido para Roma, mas investigações posteriores desmentiram essa versão.
Conhecido por proteger a comunidade xiita, Sadr recebeu o título de imã e seu desaparecimento gerou diversas teorias: alguns acreditam que foi assassinado, outros que continua vivo em cativeiro. Pesquisadores da BBC destacam que sua influência sobre o Irã na véspera da revolução iraniana poderia ter motivado interesses políticos contrários a ele.
A investigação incluiu uma análise da Universidade de Bradford, que utilizou o algoritmo Deep Face Recognition para comparar a imagem do corpo com fotos conhecidas de Sadr. O resultado apontou 60 pontos de semelhança em uma escala de 0 a 100, considerado uma “alta probabilidade” de ser o clérigo, segundo o professor Hassan Ugail.
Apesar da descoberta, Sayyed Sadreddine Sadr, filho do clérigo, descartou que o corpo seja do pai, afirmando ter informações de que ele ainda estaria vivo após 2011. A crença de que Sadr continua vivo é compartilhada pelo partido político Amal, fundado por ele, que exerce forte influência entre os xiitas libaneses.
O repórter Kassem Hamadé, que registrou a foto em 2011, também coletou folículos capilares para teste de DNA, mas a amostra teria sido perdida por erro técnico, segundo o Amal. Em março de 2023, a equipe da BBC foi detida e interrogada pela inteligência líbia, acusada de espionagem, e posteriormente liberada e deportada.
O documentário reforça a complexidade do caso e o mistério em torno de Musa al-Sadr, enquanto as autoridades líbias e o gabinete de Nabih Berri, chefe do Amal, não comentaram o episódio.
