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CRIME ORGANIZADO

Argentina investiga presença do PCC e prende criminosos ligados a facções brasileiras

Ministra Patricia Bullrich confirma identificação de 28 suspeitos e prisão de integrante de grupo aliado ao PCC; Brasil colaborou em operação

6 agosto 2025 - 07h05Fabio Grellet
Polícia Civil capturou na Argentina um dos principais foragidos do Estado do Rio Grande do Sul; suspeito é ligado ao PCC.
Polícia Civil capturou na Argentina um dos principais foragidos do Estado do Rio Grande do Sul; suspeito é ligado ao PCC. - (Foto: PCRS/Divulgação)

Uma investigação conduzida pela Polícia Federal da Argentina identificou 28 pessoas com vínculos diretos ao Primeiro Comando da Capital (PCC) em território argentino. A informação foi divulgada nesta terça-feira (5) pela ministra da Segurança Nacional do país, Patricia Bullrich, durante coletiva de imprensa ao lado do novo diretor do Departamento Federal de Investigação (DFI), comissário-geral Pascual Mario Bellizzi.

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Segundo Bullrich, oito pessoas já estão presas, enquanto as outras 20 permanecem em liberdade, sendo investigadas, com processos de expulsão ou extradição em andamento. A ministra enfatizou que o monitoramento da atuação do grupo será contínuo. “Vamos impedir a todo custo que essas organizações se estabeleçam em solo argentino, porque são extremamente violentas e carregam consigo crimes graves”, afirmou.

A presença do PCC em países vizinhos é um fenômeno crescente que preocupa autoridades de segurança pública da América do Sul. Fundada em São Paulo na década de 1990, a facção criminosa expandiu sua influência para além das fronteiras brasileiras, tornando-se uma das organizações mais estruturadas e perigosas da região.

A investigação argentina revelou que o grupo reproduz rituais de batismo e iniciação dentro dos presídios, como ocorre nas cadeias brasileiras. Os novos membros recebem número de matrícula, uma das marcas do modus operandi da facção, segundo relato das autoridades.

Essa prática foi observada em presídios argentinos, especialmente na região de Rosário, considerada um dos epicentros da criminalidade transnacional no país.

Entre os investigados com supostos vínculos com o PCC, estão:

  • Jorge Adalid Granier, boliviano com conexões com gangues da área metropolitana de Rosário;

  • Diego Dirisio, suspeito de traficar armas da Europa para a facção;

  • Emanuel "Liba" Dos Santos, membro oficialmente batizado do PCC, preso em Ezeiza e posteriormente extraditado;

  • Elvis Riola de Andrade, detido em Campana;

  • Sebastián Marset, acusado de liderar uma rede de tráfico intercontinental de cocaína e que circulou por território argentino.

O jornal O Estado de S. Paulo não conseguiu localizar a defesa dos investigados até o fechamento desta matéria.

Um relatório recente do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) aponta que ao menos 56 integrantes do PCC já atuam na Argentina. A estimativa é preocupante e corrobora com os dados obtidos pela Polícia Federal argentina.

O avanço da facção sobre o território vizinho se dá por diferentes frentes, como o tráfico de drogas, o contrabando de armas, a lavagem de dinheiro e, mais recentemente, a formação de alianças com gangues locais para facilitar a logística criminal na região.

A investigação sobre a presença do PCC em território argentino ganhou ainda mais relevância na última sexta-feira (1), com a prisão de Fábio Rosa Carvalho, de 41 anos, conhecido como “Nóia”, um dos criminosos mais procurados do Rio Grande do Sul. Ele é integrante da facção Os Manos, que mantém ligações operacionais com o PCC.

Carvalho foi capturado em Buenos Aires após uma operação conjunta entre a Polícia Civil do Rio Grande do Sul e autoridades argentinas. A ação foi coordenada pelo delegado Gabriel Lourenço, que classificou a prisão como “um marco significativo no combate ao crime organizado transnacional”.

Segundo a polícia brasileira, Carvalho havia sido condenado por crimes no Brasil, mas foi libertado com o uso de tornozeleira eletrônica em 2022. Em fevereiro de 2023, rompeu o dispositivo e passou a ser considerado foragido.

A partir de informações obtidas por inteligência, a Polícia Civil gaúcha realizou diligências em Concórdia, na Argentina, e posteriormente seguiu para Buenos Aires. Em 29 de julho, as autoridades localizaram o paradeiro de Carvalho em um edifício residencial. Ele foi monitorado e, ao sair do imóvel, foi abordado e preso sem resistência. Nenhum item ilícito foi encontrado com ele.

Para a ministra Patricia Bullrich, a cooperação internacional é fundamental para conter o avanço dessas facções. “Trata-se de uma organização com alcance continental, com rotas que envolvem armas, drogas e lavagem de dinheiro. Não podemos permitir que a Argentina vire refúgio ou campo de operação para o PCC”, afirmou.

Bellizzi, recém-nomeado diretor do DFI, também ressaltou que, apesar de a presença do grupo ainda não ser considerada expressiva, a vigilância será permanente. “O objetivo é interromper qualquer tentativa de estruturação ou aliança criminosa em nosso país.”

A prisão de Carvalho e as descobertas sobre a atuação do PCC em território argentino reforçam a necessidade de cooperação entre forças policiais sul-americanas. O combate ao crime organizado transnacional exige estratégias conjuntas, inteligência compartilhada e ações rápidas.

Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia têm sido frequentemente mencionados em investigações sobre células do PCC e de outros grupos criminosos, que operam em conjunto ou disputam rotas de tráfico e influência nas prisões.

O alerta das autoridades argentinas vem em um momento em que o combate ao crime organizado se torna tema central em agendas de segurança pública da região. Com fronteiras porosas, rotas fluviais e articulações locais, o ambiente é propício para a atuação dessas organizações.

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