
Na manhã desta sexta-feira (22 de agosto), a presidente da Associação Pestalozzi de Campo Grande, Gyselle Saddi Tannous, esteve no programa Giro Estadual de Notícias para falar de uma casa que não está à venda, mas que vale muito. Um lugar com varanda, cheiro de comida feita na hora, e silêncio de tarde. Um lugar que acolhe histórias partidas e tenta costurar novos começos.

Essa casa tem nome: Casa de Helena. Fica no Bairro Monte Castelo, em Campo Grande, e foi criada em março de 2024 pela Pestalozzi, diante da carência de abrigos especializados para crianças e adolescentes com deficiência que perderam ou nunca tiveram vínculo com suas famílias. Não havia lugar com estrutura adaptada, nem com o cuidado necessário para quem chega já tendo passado por tanta coisa.
“A casa foi pensada para parecer exatamente isso: uma casa”, explicou Gyselle durante a entrevista. “Nada com cara de hospital, nem de instituição. As crianças precisam se sentir pertencentes.”

Do lado de fora, a fachada é simples. Do lado de dentro, os ambientes são acessíveis e planejados para dar autonomia aos acolhidos. Quartos baixos, banheiros adaptados, brinquedos ao alcance das mãos. Tem uma pérgola de madeira no quintal, onde o sol bate no fim da manhã, e onde as crianças costumam sentar para ver o dia passar.
“A gente tenta criar um ambiente onde elas possam, pela primeira vez, se sentir em segurança”, disse Gyselle, em tom firme, mas acolhedor.
A Casa de Helena funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. Recebe crianças de 0 a 12 anos, com ou sem deficiência, encaminhadas pela Vara da Infância. Quase todas vêm de contextos de violência, abandono ou negligência. “Elas chegam muito assustadas. Algumas sequer sabem dizer o próprio nome. Nosso trabalho é devolver a elas algo que foi tirado: a infância.”

Durante a entrevista, Gyselle contou histórias reais de crianças que passaram pelo abrigo. Como a de uma menina de dois anos, com deficiência, que está acolhida atualmente. “Ela foi visitada recentemente por um casal com intenção de adoção. Foi um momento silencioso e bonito. Ela ficou observando, sem saber o que era aquilo. Mas parecia pronta pra descobrir.”
Ou o caso de um menino de sete anos, também com deficiência, que passou meses na casa até ser adotado. “Ele chegou muito fechado, muito desconfiado. Mas depois foi se abrindo. Hoje está com uma nova família.”
A Casa de Helena também tenta reconstruir vínculos familiares, quando isso é possível. “Tem casos em que conseguimos reaproximar a criança da mãe, do pai. A gente faz esse trabalho com apoio psicológico, assistência social. Mas quando não dá, a adoção é o caminho. E é lindo quando acontece.”
Na entrevista, Gyselle também destacou o envolvimento do Judiciário local. “A juíza da Vara da Infância, a Dra. Katy Braun do Prado, sabe o nome de cada criança. Ela acompanha tudo de perto. Isso muda tudo.”

O nome da casa homenageia Helena Antipoff, psicóloga russa que chegou ao Brasil nos anos 1920 e criou um modelo de educação inclusiva baseado na filosofia de Pestalozzi. “Ela acreditava na junção entre afeto, educação e acolhimento. A gente tenta seguir isso.”
No fim da conversa, Gyselle foi clara: “A casa está sempre cheia. Crianças continuam chegando. E a gente continua aqui, acolhendo, ouvindo, esperando que cada uma encontre um lugar novo para chamar de lar.”
