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EXPOSIÇÃO

Vergonha nas redes: a nova arma da Havan contra furtos

Empresa divulga flagrantes de furtos nas redes sociais, mas estratégia levanta questões sobre direitos e privacidade

13 janeiro 2025 - 15h45Da redação
Mulher é flagrada furtando loja Havan em Campo Grande; vídeo divulgado nas redes divide opiniões sobre ética e privacidade.
Mulher é flagrada furtando loja Havan em Campo Grande; vídeo divulgado nas redes divide opiniões sobre ética e privacidade. - (Foto: Divulgação)

Em Campo Grande, uma mulher foi flagrada pelas câmeras de segurança da loja Havan enquanto escondia latas de lixo em um carrinho. O desfecho do furto não foi revelado, mas a loja divulgou o vídeo nas redes sociais como parte de sua campanha “Amostradinhos do Mês”, iniciada em agosto de 2024. A ação, que expõe mensalmente pessoas flagradas furtando, visa inibir crimes por meio da "vergonha pública".

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O vídeo, que já circula amplamente, mostra a cliente sendo abordada no estacionamento por um segurança, que questiona os itens. Além da cidade e do rosto da mulher em close, uma frase no final do vídeo diz: “Fica a dica: tentou roubar na Havan, vai ficar famoso.”

Campanha polêmica gera debate jurídico - A estratégia, defendida pelo proprietário da rede, Luciano Hang, como uma forma de combate ao aumento dos furtos após a pandemia, também gerou críticas. Especialistas apontam problemas legais e éticos na divulgação das imagens.

De acordo com o professor de Criminologia e Direito Penal da USP, Maurício Stegemann Dieter, a prática de expor flagrantes de crimes diretamente ao público não é adequada. “Uma empresa não tem legitimidade para mobilizar processos de criminalização divulgando pessoas. O correto é entregar essas gravações às autoridades policiais”, explica. Ele também alerta que a iniciativa pode incentivar linchamentos físicos e virtuais.

O advogado criminalista Bruno Koga concorda, afirmando que a exposição pública pode resultar em processos judiciais. “É uma colisão de direitos. De um lado, a privacidade do indivíduo; de outro, o interesse da empresa em proteger seu patrimônio”, analisa.

Uma resposta ao aumento dos furtos - A Havan justificou a iniciativa com base nos números crescentes de furtos. Mesmo com sistemas avançados de monitoramento, incluindo reconhecimento facial e rastreamento 24 horas, a rede enfrenta dificuldades para coibir crimes.

“Depois de tanto tempo registrando boletins de ocorrência sem redução dos furtos, decidimos expor os criminosos nas redes sociais. As pessoas precisam entender que isso é crime e tem consequências”, declarou Hang em nota oficial.

Embora a estratégia tenha defensores entre consumidores que aprovam o “punição exemplar”, críticos afirmam que a empresa pode estar infringindo o direito à privacidade, especialmente em casos onde os envolvidos não foram formalmente acusados.

O limite entre exposição e justiça - O episódio evidencia o conflito entre a busca por justiça privada e o respeito às leis. Enquanto a Havan defende a prática como um meio eficaz de dissuadir furtos, especialistas pedem cautela. “É preciso equilibrar a necessidade de segurança com o respeito aos direitos fundamentais. Expor uma pessoa não é uma solução viável, mas pode agravar os problemas”, conclui Dieter.

O caso reacende a discussão sobre o papel das empresas na segurança pública e seus limites legais e éticos.

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