
Era para ser só mais um dia na rotina de compras dos clientes do Fort Atacadista, mas algo mudou. Quem entra na loja de Campo Grande, por exemplo, pode ser recepcionado por Caramelo, um vira-lata de pelo dourado e olhar atento. No crachá, a função está lá, bem clara: “Auxiliar de vigia”. Ele é parte de um projeto inusitado, o “Cãolaborador”, uma das maneiras que o Grupo Pereira, dono de várias bandeiras de supermercados e atacarejos pelo Brasil, encontrou para contribuir com a causa animal.

O pretexto para falar de Caramelo é o Dia Mundial do Cachorro, celebrado em 26 de agosto. A data, que costuma passar despercebida para a maioria, ganhou um novo significado na rede de lojas. Mas a história vai além de um simples projeto corporativo. É uma jornada que envolve cuidado, responsabilidade social e, acima de tudo, um afeto inesperado.
De cachorros de rua a funcionários oficiais - Tudo começou quando cães como Nick, Thor e Bob apareceram durante a construção de uma unidade do Fort Atacadista em Campo Grande. Esses cachorros, antes anônimos e vagando sem rumo, se entrosaram com os operários. No dia da inauguração, o que era para ser um evento comum virou a celebração de uma promoção nada convencional: os cães ganharam crachás e foram oficialmente integrados à equipe. Agora, eles têm lugar para dormir, comida garantida e, ocasionalmente, um ou outro cliente que estende a mão para um carinho entre as gôndolas de produtos.
Histórias dos cães acolhidos: Cães como Caramelo, Nick, Thor, Bob e Pereirinha se destacam como exemplos de animais que passaram de situação de abandono para “funcionários” das lojas, recebendo cuidados e carinho.
O abandono animal no Brasil é um problema sério e complexo. Estima-se que mais de 30 milhões de cães vivem nas ruas, sem qualquer tipo de cuidado. Por isso, a proposta do Grupo Pereira de adotar e acolher esses animais dentro das suas lojas soa como um manifesto silencioso, uma forma de dizer que, sim, há uma maneira de lidar com essa realidade de maneira prática e humanizada.
Ações que impactam além das prateleiras - Desde 2016, o grupo trocou a pirotecnia das inaugurações por gestos concretos: a cada nova loja aberta, até R$ 3.000, que antes eram gastos com fogos de artifício, são doados para ONGs de proteção animal. Ao todo, mais de R$ 120 mil já foram destinados a essas instituições. Pode não parecer muito quando se olha para o faturamento de um gigante do varejo, mas, para as ONGs que vivem com o caixa no vermelho, essa ajuda faz toda a diferença.
O Grupo Pereira também promove feiras de adoção regularmente, principalmente nas lojas da bandeira Comper. O projeto, que começou timidamente no Mato Grosso do Sul, agora é realizado em várias regiões, com a promessa de, pelo menos, duas feiras mensais. A missão? Oferecer uma chance de lar para cães e gatos que, na maioria das vezes, já se acostumaram ao descaso. Além disso, em agosto, a rede intensificou doações de ração e outros itens para ONGs como a SOS Peludinhos, de Itajaí (SC), e a Áspide, no Distrito Federal.
Acolhimento em várias regiões: Os cães acolhidos pelo projeto estão distribuídos em unidades do Fort Atacadista e Bate Forte em diversos estados do Brasil.
Cãolaboradores - Em Santos (SP), Pereirinha, outro cãolaborador, faz parte da rotina do Fort Atacadista. Ele não é só uma “decoração simpática”, mas um símbolo vivo do que o projeto representa. Com direito a casinha, alimentação e visitas regulares ao veterinário, ele se tornou uma espécie de mascote local, conhecido tanto pelos funcionários quanto pelos clientes frequentes. E é aí que a iniciativa mostra sua verdadeira força: ao transformar a experiência de compra em algo que vai além da lista de produtos.
É claro que, do ponto de vista de marketing, há uma leitura pragmática. A presença dos cães gera empatia, cria vínculo com a comunidade e constrói uma imagem positiva para a marca. Mas, por trás disso, existe um impacto real, palpável e contínuo na vida desses animais. O que poderia ser uma ação superficial de responsabilidade social corporativa ganha profundidade quando se vê a relação que se constrói entre os cães e as pessoas que interagem com eles.
