
Durante participação no painel "O que esperar da COP30 no Brasil?", realizado nesta semana na São Paulo Climate Week, a CEO da COP30, Ana Toni, destacou que o Brasil tem uma oportunidade única com a conferência do clima da ONU para mostrar ao mundo que é capaz de oferecer soluções concretas e escaláveis no combate às mudanças climáticas.

Para ela, a COP30, que será realizada em Belém (PA) em novembro de 2025, deve servir como uma vitrine global do que o país já está fazendo em áreas como agricultura regenerativa, agrofloresta, bioeconomia e energias renováveis. “O Brasil deve usar a conferência para mostrar que pode ser um grande provedor de soluções”, afirmou Toni.
Soluções brasileiras em destaque
A CEO ressaltou que a ideia é construir um legado claro: quais soluções o Brasil já implementou com sucesso e que podem ser replicadas em outras partes do mundo. “Queremos sair da COP30 com o entendimento de que é possível escalar as práticas brasileiras em outras regiões”, destacou.
Esse protagonismo está diretamente conectado à imagem do país na geopolítica climática. Além das ações práticas, Toni também apontou que o evento é a oportunidade de reforçar a credibilidade internacional do Brasil ao mostrar comprometimento com metas de redução de emissões e com o cumprimento dos acordos climáticos assinados nas COPs anteriores.
Meta de financiamento: US$ 1,3 trilhão
Outro ponto considerado estratégico por Ana Toni é a mobilização de recursos. O Brasil, junto ao Azerbaijão – país-sede da COP29 –, trabalha na construção de um documento que indicará caminhos para levantar US$ 1,3 trilhão em financiamento climático. Essa meta foi definida na COP29, e os resultados devem ser apresentados em Belém.
“Queremos deixar como legado essa discussão de como é possível mobilizar esse montante de forma realista. O financiamento climático é um dos maiores gargalos para a implementação das soluções já conhecidas”, avaliou.
Clima é economia, e o mundo está atrasado
Toni frisou que o clima não é mais um tema restrito ao meio ambiente. “Hoje, é uma questão econômica, de desenvolvimento e de crescimento”, afirmou. Segundo ela, o Brasil e o mundo precisam reconhecer que já estão atrasados em relação à adaptação das estruturas produtivas e sociais para lidar com os efeitos da crise climática.
Ela mencionou setores como energia, agricultura, infraestrutura e logística como exemplos de áreas que precisam passar por uma “revolução” no modo como se relacionam com a natureza. “Estamos em um momento de adaptação. E todos os setores devem entender essa urgência.”
COP30 e a agenda de ação
A executiva também reforçou que a conferência no Brasil pretende ser uma "COP de implementação", dando continuidade aos compromissos firmados em edições anteriores. “Nosso foco é avançar em uma agenda de ação. Precisamos sair da COP30 com decisões concretas sobre como implementar as metas e acordos já traçados”, disse.
Toni ressaltou que não se trata apenas de negociar novos compromissos, mas de valorizar os acordos internacionais existentes e criar mecanismos reais para tirá-los do papel. “É hora de menos promessas e mais prática”, resumiu.
Desafios logísticos e legado para o país
Além das pautas climáticas, a COP30 traz também um desafio logístico relevante para o Brasil. A escolha de Belém, na Amazônia, tem caráter simbólico, ao colocar o bioma no centro das discussões globais. Ao mesmo tempo, exige grande esforço de infraestrutura e organização.
Ana Toni, no entanto, vê esse cenário como oportunidade. “Queremos que a COP deixe um legado real para a região. Seja em mobilidade, saneamento, hospedagem ou conectividade. A presença da conferência pode acelerar transformações importantes para a cidade e para a população local”, disse.
Urgência como palavra de ordem
A fala de Toni reflete o momento atual da agenda climática internacional, em que o discurso da urgência ganha cada vez mais força. A expectativa é que, ao sediar a COP30, o Brasil assuma uma liderança mais assertiva nas negociações, sem abrir mão de cobrar dos países desenvolvidos o cumprimento de suas obrigações históricas no financiamento e suporte às nações em desenvolvimento.
“Não estamos apenas discutindo metas futuras. Estamos lidando com consequências reais que já estão acontecendo agora. A COP30 precisa refletir esse senso de emergência”, finalizou Ana Toni.
