
Com a alta de intoxicações ligadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, o Ministério da Saúde anunciou neste sábado (4) a compra emergencial de 2,5 mil doses de fomepizol, um antídoto utilizado no tratamento contra envenenamento por metanol. A aquisição foi feita junto a uma fabricante japonesa e o lote deve chegar ao Brasil na próxima semana.

Até agora, o país registra 127 casos de intoxicação por metanol, entre suspeitas e confirmações laboratoriais, segundo o governo federal. Desse total, 11 já foram confirmados com exames.
A medida foi apresentada pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante entrevista coletiva em Teresina (PI). Ele destacou que o Brasil não produz fomepizol, o que motivou a busca por fornecedores internacionais, com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Além do fomepizol, o governo adquiriu 12 mil ampolas de etanol farmacêutico, que serão destinadas aos centros de toxicologia e hospitais universitários do país. A substância também é usada como alternativa no tratamento de intoxicações por metanol.
Com isso, o total de etanol em estoque chega a 16,3 mil ampolas, considerando a compra anterior de 4,3 mil unidades. Segundo Padilha, a intenção é garantir que nenhum paciente fique sem acesso ao tratamento adequado.
De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento com fomepizol ou etanol pode ser iniciado com base nos sintomas e histórico do paciente, sem necessidade de aguardar a confirmação laboratorial. A aplicação, no entanto, deve ocorrer em ambiente hospitalar e sob supervisão médica.
Nos quadros mais graves, a hemodiálise continua sendo necessária para a remoção do metanol e seus derivados do organismo.
Como age o fomepizol
O fomepizol atua bloqueando a ação de uma enzima do fígado responsável por transformar o metanol em compostos tóxicos, como o ácido fórmico, que pode causar sérios danos à saúde. Quando o antídoto é administrado, evita-se a formação dessas substâncias, permitindo a eliminação segura do metanol pelo organismo.
Segundo o médico Fábio Bucaretchi, do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) da Unicamp, o fomepizol é mais prático e seguro do que o etanol. Ele não exige infusão contínua e reduz o tempo total do tratamento. Por isso, é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um medicamento essencial para esse tipo de caso.
Metanol
O metanol é um tipo de álcool industrial utilizado na fabricação de solventes, tintas e combustíveis. Embora não tenha gosto ou cheiro perceptível, sua ingestão pode ser letal. Quando adicionado a bebidas falsificadas, o consumidor dificilmente nota a adulteração.
De acordo com o médico Álvaro Pulchinelli Junior, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, o metanol não deve ser utilizado de nenhuma forma em alimentos ou bebidas. Ainda assim, casos de contaminação com essa substância têm surgido no país, principalmente em produtos sem procedência confiável.
Os principais sinais de intoxicação por metanol incluem náuseas, vômitos, dores de cabeça, visão turva e, nos casos mais graves, convulsões, coma ou morte. Diante de qualquer suspeita, é essencial procurar atendimento médico imediatamente.
O governo reforça que tanto o fomepizol quanto o etanol devem ser usados apenas com prescrição médica. O uso incorreto ou tardio pode agravar o quadro clínico.
Enquanto as investigações sobre a origem das bebidas adulteradas continuam, a principal recomendação é evitar produtos sem selo de origem, com embalagem suspeita ou vendidos de forma clandestina.
