
O Brasil voltou a apresentar sinais consistentes de recuperação no combate à fome. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o país deixou o Mapa da Fome, ao registrar, entre 2022 e 2024, uma média inferior a 2,5% da população com acesso alimentar insuficiente — critério usado pela entidade para definir presença em sua lista global.

A informação foi anunciada nesta segunda-feira (28) e representa uma mudança importante no cenário nacional, após o país ter retornado ao mapa no triênio 2019–2021, em meio às consequências da crise econômica e da pandemia de covid-19.
Segundo a FAO, o Brasil se destaca positivamente na comparação internacional. A média da América Latina é de 5,1%, enquanto no mundo o índice chega a 8,2% da população vivendo sob risco de fome ou desnutrição crônica.
Milhões ainda vivem em insegurança alimentar
Apesar da saída do mapa, os dados revelam que a fome ainda é uma realidade para milhões de brasileiros. A FAO aponta que 7 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar severa, quando não há certeza se a família poderá fazer três refeições por dia.
Outros 28,5 milhões enfrentam insegurança alimentar moderada ou grave, situação em que o acesso a alimentos é limitado, instável ou precário. Somados, são mais de 35 milhões de brasileiros afetados pela falta de segurança alimentar.
Resultados ligados a políticas públicas permanentes
O retorno do Brasil a um patamar abaixo do limite crítico da FAO é atribuído, em grande parte, à reestruturação de políticas sociais e programas de combate à pobreza. Em entrevista à Rádio Eldorado, o diretor-executivo da Ação da Cidadania, Rodrigo "Kiko" Afonso, destacou a importância da continuidade dessas ações.
“Essa melhora não é resultado de ações pontuais, mas de políticas públicas que precisam ser de Estado, e não de governo”, afirmou. Ele defende a ampliação do Bolsa Família e uma busca ativa por famílias que ainda estão fora das redes de proteção social.
O especialista também apontou que a fome no Brasil tem origem multifatorial, ligada não apenas à falta de alimentos, mas também a questões como renda, desemprego, moradia precária e acesso limitado à educação e saúde.
Perspectiva e risco de retrocesso
A FAO alerta que, embora os dados atuais sejam positivos, os números se baseiam em médias e podem sofrer alterações em caso de novas crises econômicas ou cortes em programas sociais. Segundo a organização, a saída do Mapa da Fome não significa erradicação da fome, mas uma redução significativa dos indicadores de subnutrição em nível nacional.
A recomendação é que o Brasil mantenha os investimentos em segurança alimentar, agricultura familiar, alimentação escolar e transferência de renda, reforçando ações voltadas aos grupos mais vulneráveis.
