
Trinta e cinco agentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistícas (IBGE) começaram ontem (18) uma missão quase antropológica em Mato Grosso do Sul. Eles não carregam pranchetas, mas dispositivos eletrônicos modernos.

Não estão atrás de histórias, mas de números que contam histórias: os hábitos de consumo das famílias sul-mato-grossenses. Assim começa a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2024-2025, que percorrerá 3.309 domicílios em 55 municípios do estado, de Campo Grande às bordas do Pantanal, passando por pequenas cidades como Anastácio e Ponta Porã.
O que o IBGE busca? - Tudo que desenha o cotidiano econômico: quanto se gasta em comida, transporte e lazer; o impacto da inflação na rotina; e até o papel das novas tecnologias — de jogos online a serviços de entrega. Pela primeira vez, a pesquisa também inclui tópicos como segurança alimentar, acesso a medicamentos e mudanças nos padrões de consumo fora de casa.
“A POF é como olhar para a alma das famílias por meio de seus hábitos e gastos,” afirma João Gabriel Marini, gerente regional do IBGE em Mato Grosso do Sul.
O cerrado e a economia do dia a dia - Se a POF fosse um retrato, Mato Grosso do Sul seria uma paisagem plural. No norte, as fazendas de gado e grãos contrastam com os centros urbanos de Dourados e Campo Grande, onde os shoppings convivem com feiras livres e transporte coletivo. O desafio da pesquisa é captar essa diversidade e transformá-la em dados úteis.
Entre os 100 mil domicílios visitados no Brasil, o estado ganha destaque como um microcosmo onde o agronegócio se encontra com as dinâmicas urbanas. Como os moradores equilibram o peso da inflação? O que priorizam? Quanto consomem de forma local e quanto depende de grandes redes?
O que muda na POF 2024-2025? - O questionário deste ano vem com novidades que refletem as transformações recentes na sociedade. Entre elas:
1. O impacto do digital: gastos com jogos e apostas online entram na pesquisa.
2. Consumo fora de casa: a POF vai captar como delivery e fast food mudaram a alimentação.
3. Sustentabilidade em foco: consumo de produtos orgânicos, hábitos de reciclagem e preocupação ambiental entram na lista.
Além disso, os resultados alimentarão índices nacionais, como o IPCA, ajudando a medir a inflação e orientar políticas públicas.
A ponte entre números e decisões - O trabalho de campo será longo — 52 semanas no total. Mas o impacto dos dados será duradouro. Elizabeth Hypólito, diretora nacional de Pesquisas do IBGE, ressalta que as informações ajudam a criar políticas mais eficazes e até a reavaliar prioridades no setor privado.
“Entender o consumo é entender o Brasil. E Mato Grosso do Sul, com sua diversidade econômica e cultural, é fundamental nesse mosaico,” afirma Hypólito.
Para garantir que os moradores se sintam seguros, o IBGE reforça que todas as informações são confidenciais. Os agentes estarão devidamente identificados, e quem desejar pode confirmar sua identidade por telefone ou online.
