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ASSUNTO EM PAUTA

Entenda o que está em discussão sobre descriminalização do aborto no STF e o que pode mudar

No último voto antes de se aposentar, ministro do STF defende autonomia feminina e diz que criminalização é ineficaz

18 outubro 2025 - 07h05Redação
Barroso vota por descriminalizar aborto até 12 semanas e critica punição a mulheres.
Barroso vota por descriminalizar aborto até 12 semanas e critica punição a mulheres. - (Foto: Fernando Frazão/ABrasil)

No último dia como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso votou a favor da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. Em seu posicionamento, defendido nesta sexta-feira (17), ele destacou a autonomia das mulheres sobre seus próprios corpos e a ineficácia da punição como forma de impedir o aborto.

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“Direitos fundamentais não podem depender da vontade das maiorias políticas. Ninguém duvide: se os homens engravidassem, aborto já não seria tratado como crime há muito tempo”, afirmou Barroso. Para ele, mulheres devem ser livres para tomar decisões existenciais, e o Estado não deveria puni-las por isso. Ele também enfatizou que ser contra a criminalização não significa ser a favor do aborto em si.

A sessão foi interrompida após um pedido de destaque feito pelo decano Gilmar Mendes, o que suspendeu a continuidade do julgamento da ADPF 442, ação que tramita desde 2017 e foi proposta pelo PSOL e o Instituto Anis. A ação pede que o aborto seja permitido até 12 semanas em qualquer situação, modelo semelhante ao adotado na Alemanha.

Luís Roberto Barroso fez seu último discurso como presidente do STF.No último dia como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso votou a favor da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação - (Foto: Luiz Silveira/STF)

Barroso seguiu integralmente o voto da ministra Rosa Weber, que já havia defendido a descriminalização às vésperas de sua aposentadoria, em setembro de 2023.

Hoje, o aborto só é legal no Brasil em três situações: risco de vida para a gestante, gravidez resultante de estupro ou feto anencéfalo. A ação que está em julgamento argumenta que a atual legislação fere princípios fundamentais como a dignidade, igualdade e liberdade, além de impactar principalmente mulheres negras e pobres.

O debate sobre o tema foi aprofundado em audiência pública convocada pelo STF em 2018, onde representantes da sociedade civil, governo e instituições religiosas se manifestaram. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por exemplo, se colocou contra a descriminalização com base em argumentos morais e religiosos.

Estudos mostram que a criminalização não impede a prática do aborto, mas contribui para que ele ocorra de forma clandestina e insegura. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 45% dos abortos no mundo são realizados de maneira insegura — a imensa maioria (97%) em países em desenvolvimento. No Brasil, a Pesquisa Nacional do Aborto (2021) revela que uma em cada sete mulheres até os 40 anos já fez aborto, sendo mais frequente entre negras, indígenas e mulheres de menor escolaridade.

Para Barroso, a questão precisa ser tratada como saúde pública e não como caso de polícia. Ele argumenta que punir mulheres não reduz o número de abortos, apenas aumenta os riscos e a desigualdade. “É perfeitamente possível ser simultaneamente contra o aborto e contra a criminalização”, concluiu.

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