
Foi numa manhã de primavera, no dia 9 de outubro, que um banco pintado de vermelho apareceu na Câmara Municipal de Campo Grande. Não era decoração e nem um novo item de mobiliário urbano. Era um aviso, um protesto silencioso, uma tentativa de marcar presença onde a ausência tem sido constante. O Banco Vermelho chegou à Capital como um símbolo contra o feminicídio e a violência de gênero.

A iniciativa é da vereadora Luiza Ribeiro, que articulou o lançamento com apoio da Conab-MS, a Companhia Nacional de Abastecimento. A proposta é simples, mas forte. O banco vermelho é colocado em espaços públicos para lembrar as mulheres que perderam a vida por serem mulheres. E também para lembrar quem passa por ele que ainda há muito a ser feito.
Durante o lançamento, o superintendente da Conab, Agnaldo Dias, fez um desafio em voz alta. Disse que se Mato Grosso do Sul já conseguiu sair do mapa da fome, agora precisa sair do mapa do feminicídio. A comparação é direta, incômoda e necessária. O Estado tem números altos. Em 2025, até o momento, foram 29 casos de feminicídio registrados. Mais de 16 mil denúncias de violência doméstica também foram feitas este ano.
O banco é itinerante. Depois da Câmara, ele seguirá para instituições como o Ministério Público do Trabalho, UFMS, IFMS, Casa da Mulher Brasileira e o Instituto Mirim. A ideia é espalhar a mensagem por toda a cidade e, se possível, pelo interior. Um banco que se move, como se quisesse ocupar os espaços que o medo costuma deixar vazios.
Luiza explica que o Banco Vermelho nasceu na Itália, em 2016, e foi trazido ao Brasil por duas mulheres de Pernambuco que perderam amigas para o feminicídio. A proposta é criar pontos de reflexão. O banco, diz ela, representa a dor, a ausência e também a urgência de mudar. Ele quer provocar o olhar de quem passa. Quer que a pessoa pare, pense e, quem sabe, decida agir.

No Brasil, campanhas como o Agosto Lilás e o Mês da Mulher tentam todos os anos trazer esse assunto à tona. Mas os números continuam altos. Em 2024, Mato Grosso do Sul teve 35 feminicídios e mais de 21 mil casos de violência doméstica. Em 2025, o ritmo segue alarmante.
Por trás de cada número há uma história que não chegou ao fim, mas foi interrompida. E é por essas histórias que o banco vermelho se coloca. Não como decoração, mas como denúncia. Ele aparece onde se costuma passar sem pensar. Na praça, no corredor da universidade, no pátio de uma instituição. Fica ali, em silêncio, dizendo tudo.
A Casa da Mulher Brasileira, em Campo Grande, é uma das próximas paradas. Lá, mulheres encontram atendimento psicológico, jurídico, medidas protetivas, acolhimento e apoio. Um lugar onde o banco vermelho encontra sentido e continuidade. Ele não apenas aponta o problema, mas se conecta com quem tenta oferecer soluções.
Nos discursos do lançamento, houve apelos para que toda a sociedade se envolva. Que o combate à violência contra a mulher não seja tarefa apenas das vítimas, mas uma responsabilidade coletiva. Agnaldo Dias afirmou que a causa não pertence só ao poder público. “Toda a sociedade deve se preocupar com isso”, disse.
A cor vermelha não foi escolhida por acaso. Ela simboliza o sangue derramado, mas também a força. O banco é um memorial e um convite. Não é apenas para sentar, mas para levantar. Levantar-se contra a violência, o preconceito, o silêncio.
