
Saiba Mais
Em Mato Grosso do Sul, a campanha de vacinação contra a dengue enfrenta um desafio: embora mais da metade do público-alvo tenha tomado a primeira dose, apenas um terço voltou para completar o esquema vacinal com a segunda. O dado, divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), acende um alerta para a baixa adesão ao ciclo completo da imunização, essencial para garantir a proteção contra a doença.

Desde o início da campanha, o estado recebeu 241 mil doses da vacina Qdenga. Destas, 188,8 mil já foram aplicadas. Cerca de 121,8 mil moradores tomaram a primeira dose — o que representa 60,5% da meta para esse grupo. No entanto, apenas 67 mil completaram a segunda aplicação, atingindo um índice de apenas 33,3%.
Segundo o Censo 2022 do IBGE, Mato Grosso do Sul tem cerca de 2,75 milhões de habitantes. Considerando o total de doses aplicadas, a cobertura vacinal representa pouco menos de 7% da população total.
Cidades com maior e menor adesão - Entre os 79 municípios sul-mato-grossenses, Eldorado lidera a cobertura da vacinação: 134,4% de primeira dose e 76,7% de segunda, superando a meta por conta da estratégia de vacinação que inclui mais pessoas do que o inicialmente previsto. Em seguida vêm Novo Horizonte do Sul (126,2% de D1) e Rio Negro (112,5%).
Por outro lado, a adesão é preocupantemente baixa em cidades como Laguna Carapã, com apenas 13,6% da população-alvo vacinada com a segunda dose. Nova Alvorada do Sul (18,5%) e Terenos (17,9%) também aparecem com baixos índices.
Em Campo Grande, a maior cidade do estado, a situação também preocupa: 41,9% da população-alvo tomou a primeira dose, mas só 19,9% completou a imunização. A capital tem cerca de 61 mil crianças de 10 a 14 anos — grupo prioritário na atual etapa da campanha.
Já em Dourados, segundo maior município de MS, 6.064 primeiras doses foram aplicadas, o equivalente a 32% da população-alvo. A cidade foca a vacinação exclusivamente em crianças de 10 a 14 anos, conforme estratégia definida pela própria prefeitura.
Distribuição estratégica e desafios iniciais - Mato Grosso do Sul foi um dos primeiros estados do Brasil a receber a vacina contra a dengue. A medida veio em meio ao aumento de casos e mortes pela doença registrados em 2024. A vacina Qdenga foi incorporada ao SUS em dezembro de 2023, após aprovação da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS).
Porém, a distribuição inicial foi limitada devido à capacidade de fornecimento da farmacêutica Takeda. Com isso, o Ministério da Saúde optou por priorizar regiões com alta transmissão e a faixa etária entre 10 e 14 anos.
Especialistas em saúde pública afirmam que a adesão mais lenta é comum nas fases iniciais da introdução de novas vacinas. A estratégia de começar por grupos específicos visa justamente avaliar a segurança e eficácia do imunizante antes de ampliar a cobertura para outros públicos.
Problemas nos registros de vacinação - A SES alerta que os dados divulgados podem estar defasados, pois se baseiam nas informações registradas na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). Muitos municípios ainda enfrentam atrasos na atualização dos dados ou operam com sistemas próprios que não se comunicam automaticamente com a plataforma nacional.
Essas falhas dificultam a visualização real da cobertura vacinal e podem impactar negativamente na tomada de decisões para ampliar a campanha.
