
Com a chegada das festas de fim de ano, as calçadas do Centro de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, voltam a ser ocupadas por vendedores ambulantes, a maioria atuando sem autorização da prefeitura.
A informalidade nas principais vias da cidade deixa ainda mais acirrada a disputa por espaço, comprometendo a mobilidade urbana e impactando diretamente nas vendas do comércio local. “Tem uns ambulantes que vêm e colocam a banquinha do lado da minha. A gente acha ruim. O fluxo de pessoas tem que ficar liberado”, afirma Cícero Firmino, que há 40 anos trabalha como vendedor autônomo e nunca conseguiu se regularizar.
Cícero Firmino vencede travesseiros em sua banca - (Foto: Iury de Oliveira)
Para muitos trabalhadores que sobrevivem do comércio de rua, a legalização é um sonho distante. Cícero, que vende travesseiros no Centro, relata que a atuação da fiscalização municipal praticamente desapareceu nos últimos tempos. “No tempo da fiscalização era correndo, perdendo. Agora largou a mão”. Mesmo assim, a falta de clientes o faz repensar o negócio. “Até agora nada ainda. Tá parado. Não tem cliente. Vou ter que ver outro negócio.”
Outro exemplo é Valdivino Barbosa, 78, que vende doces para complementar a renda enquanto aguarda a aposentadoria. Sem cadastro, ele também já teve mercadorias apreendidas. “Hoje não tem mais fiscalização, mas já teve muito. Já aconteceu de prenderem toda minha mercadoria”, relembra.
Valdivino Barbosa tenta complementar a renda com a venda de doces no Centro, mas enfrenta dificuldades sem cadastro oficial - (Foto: Iury de Oliveira)
Segundo ele, o fim de ano não irá melhorar suas vendas, já que o público não compra muitos doces nas datas de fim de ano.
Entre os poucos que atuam com permissão da prefeitura, Sérgio Cassiano é uma das exceções. Há mais de dez anos, ele mantém sua banca na Praça Ary Coelho e garante estar em dia com a legalização. “Quem trabalha dentro da praça é legalizado, pagamos taxas para a prefeitura e temos permissão para trabalhar. Os irregulares ficam na 14 de Julho”, afirmou.
Movimento na Rua 14 de Julho revela disputa por espaço entre comércio formal e vendedores informais - (Foto: Williams Souza)
Mesmo dentro da legalidade, Sérgio também sofre com o baixo movimento e a concorrência desleal. “O ano foi fraco, mas vamos ver essa Cidade do Natal, para ver se vem muitas pessoas de fora”, comenta, destacando a esperança de melhora nas vendas com os eventos de fim de ano.
A presença desordenada dos ambulantes irregulares não é o único problema enfrentado pelo comércio central. Adelaido Vila, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande (CDL-CG), alerta para a proliferação de lojas que vendem produtos falsificados. “Temos algumas lojas especializadas em tênis falsificados que estão tomando conta do centro. Isso impacta empresas que trabalham com produtos originais, pagam impostos e geram empregos registrados.”
No camelódromo de Campo Grande, onde os comerciantes atuam de forma legalizada, o aumento dos vendedores informais nas ruas é motivo de preocupação. Narciso Soares, presidente da associação que administra o local, afirma que as queixas são constantes. “Essas pessoas sem autorização ficam pela rua tirando os clientes, atrapalhando a venda de quem está regular.”
Comerciantes do camelódromo reclamam da concorrência de ambulantes irregulares nas ruas próximas - (Foto: Rafael Rodrigues)
Narciso conta que buscou apoio da prefeitura, mas não teve retorno. Segundo ele, a falta de fiscalização tem levado a uma queda no movimento do camelódromo, prejudicando comerciantes que seguem as regras estabelecidas pelo município.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Campo Grande informou que o comércio ambulante em vias públicas não é regulamentado e é proibido pela Lei nº 2.909/92. A fiscalização é feita com apoio da Guarda Civil Metropolitana, com foco em ações de orientação e notificação.


