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INCÊNDIO NA BOATE KISS

Após 3 anos da tragédia em Santa Maria, casas noturnas se preocupam com as normas de segurança

Em Campo Grande, empresários adotaram medidas de segurança ambiental e pessoal.

26 janeiro 2016 - 12h31Suelen Morales
O incêndio na Boate Kiss ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 .
O incêndio na Boate Kiss ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 . - Divulgação
Terça da Carne

A tragédia ocorrida na Boate Kiss, em Santa Maria, RS, completa três anos nesta quarta-feira (27). O acontecimento que chocou o Brasil foi considerado o terceiro maior desastre em casas noturnas no mundo, com 242 vítimas fatais e 680 feridos. A falta de medidas simples de segurança foi apontada como o principal erro por parte dos donos da boate o que, consequentemente, influenciou no número de vítimas.

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O incêndio iniciou um debate no país sobre a segurança e o uso de efeitos pirotécnicos em ambientes fechados com grande quantidade de pessoas. Preocupados não só com os negócios, empresários do ramo em Campo Grande falam ao Portal A Crítica sobre a arquitetação da segurança ambiental e pessoal em seus empreendimentos.

O Major Arquimedes, diretor da Mega Segurança Ltda, responsável pela segurança do Diamond Hall, reafirma a importância do investimento em medidas preventivas.

"Toda a engenharia da casa foi planejada de modo a garantir seu correto funcionamento, atendendo às normas ambientais e preventivas. Além disso, fizemos todo o planejamento de segurança para inibir qualquer tipo de incidente. Não toleramos qualquer tipo de excessos na casa. Durante os eventos, disponibilizamos brigada de incêndio, seguranças e monitoramento. Qualquer problema é rapidamente contido e resolvido da melhor maneira. A segurança deve ser rígida com as normas, mas educada com os clientes", afirma.

O proprietário da boate Feat Club, Rodrigo Lochett, garante que a super lotação é uma das maiores preocupações da casa, que tem a capacidade de comportar 665 pessoas, mas que teve como ápice a quantidade de 590 pessoas em uma noite.

"Adotamos todas as medidas exigidas pelos órgãos competentes. Principalmente a questão da lotação. Cumprimos à risca, pois diante de um sinistro é muito difícil conter ou gerenciar um problema se a casa estiver excessivamente lotada. Além disso, os funcionários recebem curso de medidas preventivas e de segurança. Contamos também com brigadista de incêndio, extintores e dois acessos a saídas de emergência", relata.

A proporção do incêndio no Boate Kiss se deu principalmente pela acústica adotada no local: o sinalizador atingiu a espuma acústica, que era inflamável e tóxica. O fogo se alastrou rapidamente e vitimou centenas de pessoas. Sobre essa questão, Lochett diz que "não gostamos e nem permitimos nenhum material inflamável, como sinalizadores ou fogos artificiais. É parte da política da casa. Quanto à acústica, adotamos uma espuma com tratamento anti-chama comprovado. Inclusive, eu mesmo fiz o teste diante de um bombeiro, em que coloquei fogo no material e não pegou. A acústica recebeu o aval tanto dos bombeiros quanto da Secretaria Municipal de Meio Ambiente", finaliza.

Relembre o caso na Boate Kiss

O incêndio na boate Kiss foi uma tragédia que ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, causada por um sinalizador e que vitimou 242 pessoas e deixou 680 feridos, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O sinalizador foi disparado por um integrante de uma banda que se apresentava na casa noturna, mas a imprudência e as más condições de segurança ocasionaram o incêndio e, por fim, a morte dos clientes.
Considerada a segunda maior tragédia no Brasil em número de vítimas em um incêndio, sendo superado apenas pela tragédia do Gran Circus Norte-Americano, ocorrida em 1961, em Niteroi, que vitimou 503 pessoas; classificou-se também como a quinta maior tragédia da história do Brasil, a maior do Rio Grande do Sul, a de maior número de mortos nos últimos cinquenta anos no Brasil e ainda, o terceiro maior desastre em casas noturnas no mundo.
O inquérito policial apontou muitos responsáveis pelo acidente, mas poucos foram denunciados pelo Ministério Público à Justiça.
Dentre as vítimas fatais, oito eram de militares que participaram do resgate de vítimas inconscientes da boate. Os bombeiros relataram que, enquanto retiravam os corpos, ouviam os celulares das vítimas tocarem "ininterruptamente", mostrando o desespero de seus parentes e amigos que tentavam se comunicar.
Um dos maiores problemas do pós-tragédia foi pouco discutido: a falta de um antídoto específico para o cianeto, a hidrocobalamina. O despreparo clínico para tratamento de intoxicados contribuiu para o prognóstico dos sobreviventes. Os pacientes receberam de forma equivocada "Rubranova", que é uma forma da vitamina B12 (cobalamina) que contém "ciano". Assim, um duplo erro se estabeleceu nos cuidados aos intoxicados. O país recebeu hidrocobalamina, enviado pelos EUA, quase uma semana após a tragédia, como resultado da intervenção direta do Palácio do Planalto em contato com uma cientista da toxicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Devido à grande quantidade de vítimas, os bombeiros tiveram que recorrer a caminhões frigoríficos para transportarem os corpos até o Centro Desportivo Municipal Miguel Sevi Viero (CDM), onde profissionais de diversas áreas reuniram-se como voluntários para prestarem assistência aos parentes das vítimas.

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