Os agricultores familiares de Mato Grosso do Sul alcançaram um novo marco no primeiro semestre de 2025: mais de R$ 5,1 milhões movimentados por meio de compras públicas institucionais. O número parcial, divulgado pela Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), já indica que o setor poderá bater o recorde histórico anual de vendas até o final deste ano.
A movimentação acontece dentro dos programas PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que juntos somam 251 projetos elaborados e protocolados de janeiro a junho. A tendência é de crescimento em relação a anos anteriores, impulsionada pelo fortalecimento do apoio técnico aos produtores, especialmente nos pequenos municípios do interior.
Crescimento sólido ano a ano - Os números consolidados reforçam a trajetória ascendente da agricultura familiar em MS. Em 2022, os programas movimentaram R$ 5,47 milhões. Em 2023, o total subiu para R$ 7,38 milhões, um crescimento de 34,87%. Já em 2024, o volume chegou a R$ 11,07 milhões, representando um aumento de 50% sobre o ano anterior e mais do que o dobro do resultado de 2022.
Em 2025, a expectativa é ainda maior. Somente no primeiro semestre, já foram protocolados 30 projetos do PAA e 221 do PNAE. A maior parte dos recursos está concentrada nos projetos do PAA protocolados (R$ 1.470.215,17) e nos contratos firmados pelo PNAE municipal (R$ 1.442.975,97).
Municípios lideram mobilização e resultados - Entre os municípios que mais se destacaram em 2024 na captação de recursos por meio das políticas públicas estão Sidrolândia, com R$ 2,2 milhões em propostas, seguida por Naviraí (R$ 1,13 milhão), Itaporã (R$ 685,8 mil), Coronel Sapucaia (R$ 626,7 mil) e Anastácio (R$ 548,5 mil).
Esses resultados não surgem por acaso. Segundo a Agraer, eles são fruto de um trabalho técnico e organizacional consistente junto aos produtores. “Com a ampliação dos programas governamentais e o fortalecimento da organização dos produtores, conseguimos aumentar significativamente o acesso dos agricultores familiares a esses mercados”, destaca Izabel Cristina Pereira, gerente de Desenvolvimento Agrário e Abastecimento da Agraer.
Ela reforça o papel da assistência prestada pela agência. “O trabalho dos técnicos da Agraer no sentido de orientar, acompanhar, ajudá-los a se organizarem para apresentar as propostas e dar um suporte contínuo, tanto na parte produtiva quanto na parte de elaboração dos projetos, escala da produção etc., tem sido decisivo”, explica.
Transformações no campo: o caso de Marlene Azambuja - Na prática, os impactos da política de incentivo à agricultura familiar são visíveis na rotina de produtores como Marlene Azambuja, agricultora orgânica do Polo Agroecológico Oeste. Ela participa dos programas PAA e PNAE de forma individual, sem associação, e hoje fornece hortaliças para duas escolas públicas.
“Fiz projetos de venda como produtora sem participação em associações. Fui aprovada por duas escolas e forneço alfaces, couve, rúcula, cheiro-verde, salsa, cebolinha e coentro”, relata. A conquista da certificação orgânica, em outubro de 2022, foi um marco para Marlene: “Completamos três anos de certificação orgânica pelo IBD, um passo importante na nossa caminhada”.
O suporte da Agraer foi decisivo, especialmente na regularização da documentação. “Em 2023, regularizamos a documentação e emitimos a CAF (antiga DAP), o que me permitiu elaborar e aprovar o projeto do PAA. A aprovação foi comunicada pessoalmente pelo presidente da Agraer durante a Semana do Orgânico na UFMS”, conta.
Agora, Marlene investe em melhorias na produção. “Estamos investindo em tecnologia, com a construção de um sombrite para otimizar a produção e a irrigação. Acreditamos que isso nos permitirá atender melhor as demandas do mercado e ampliar nosso alcance”, afirma.
Novas perspectivas para 2025 - Com a abertura recente de um edital do PAA estadual voltado para comunidades indígenas, a expectativa é de que os números de 2025 superem os de anos anteriores. A Agraer aposta na ampliação da participação de produtores e no fortalecimento das redes locais como vetores de desenvolvimento rural.
“O papel da Agraer é auxiliar os agricultores para que eles possam acessar os editais de compras públicas. Isso é feito divulgando, auxiliando e orientando na organização da documentação, na elaboração dos projetos e das propostas, articulando com as associações e cooperativas, e fazendo o acompanhamento técnico e produtivo necessário, para que eles tenham produtos de qualidade, que possam ser vendidos nos programas PNAE e PAA”, resume Izabel Cristina.
Políticas públicas como motor da agricultura sustentável - O modelo de apoio à agricultura familiar desenvolvido em Mato Grosso do Sul mostra que, com organização, assistência técnica e políticas públicas direcionadas, é possível aliar desenvolvimento econômico, segurança alimentar e sustentabilidade.
Mais do que números, os dados representam famílias inteiras que veem na terra não apenas seu sustento, mas também uma forma de vida digna e produtiva. A continuidade e o fortalecimento de políticas como o PAA e o PNAE são fundamentais para garantir que essa transformação alcance cada vez mais agricultores.
