
A transformação ambiental que Mato Grosso do Sul busca passa, cada vez mais, pela escola. É o que defende Nauristela Paniago, coordenadora da Câmara Técnica de Educação Ambiental da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Mato Grosso do Sul (AGEMS), que conversou com o podcast A Crítica Visita sobre as ações desenvolvidas pelo órgão e os desafios de conscientizar não apenas os estudantes, mas também os adultos.

“A educação ambiental na regulação é uma ferramenta de prevenção. Trabalhamos com processos pedagógicos participativos, que levam as pessoas a entenderem como suas ações impactam diretamente o meio ambiente e os serviços públicos”, afirma Nauristela.
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Desde 2022, a AGEMS tem desenvolvido um trabalho estruturado de educação ambiental com foco no saneamento básico. Muito além das campanhas tradicionais, as ações envolvem visitas técnicas, oficinas em escolas, instalação de pontos de coleta seletiva e projetos que envolvem toda a comunidade escolar.
“Queremos que os estudantes sejam protagonistas, multiplicadores dentro das suas casas, escolas e comunidades. A mudança real acontece quando eles entendem, por exemplo, o impacto de uma pia entupida ou de jogar lixo fora do lugar. É a educação virando transformação”, explica.
Um dos destaques do programa é a visita guiada ao Drive-Thru da Reciclagem, localizado nos altos da Avenida Afonso Pena, em Campo Grande. O espaço serve de laboratório para os estudantes entenderem temas como economia circular, logística reversa e uso consciente da água.
“Nossa equipe multidisciplinar que inclui engenheiros, jornalistas, economistas e advogados recebe os alunos e conduz uma aula fora da sala, com foco em soluções práticas para o saneamento”, diz Nauristela.
Ela conta que as escolas são selecionadas de diversas regiões da cidade, e o transporte dos alunos é garantido pela AGEMS, para democratizar o acesso.
De Campo Grande para o interior - Em 2023 e 2024, a AGEMS levou ações de educação ambiental a 14 municípios sul-mato-grossenses, sempre em parceria com escolas, secretarias municipais de Educação e Meio Ambiente. E a meta é expandir ainda mais.
Um dos projetos-piloto foi realizado na Escola Municipal Fausta Garcia Bueno, no bairro Copa Sul, em Campo Grande, onde foi implantado um PEV (Ponto de Entrega Voluntária). Lá, os estudantes e a comunidade passaram a separar resíduos como plástico, metal, papel e vidro, promovendo a coleta seletiva e criando novas rotinas sustentáveis.
“Instalamos também um PEV na Escola Estadual Vereador Cristóvão Silveira, a primeira do Estado com conceito sustentável. Os alunos vão iniciar a jornada já integrados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030”, ressalta.
Educando os adultos: um desafio necessário - Nauristela reconhece que, embora as crianças absorvam com facilidade os valores ambientais, os adultos ainda representam um dos principais desafios.
“Não podemos continuar dizendo que ‘adulto não muda’. A educação ambiental precisa atingir quem toma decisões em casa, quem paga a conta de água e ainda joga lixo na rua ou óleo na pia. Por isso, também atuamos em eventos comunitários e socioambientais voltados ao público adulto”, explica.
Durante esses eventos, a AGEMS oferece orientações simples, como entender a fatura de água, separar corretamente o lixo e fazer uso consciente da rede de esgoto. “É aí que entra o conceito de responsabilidade compartilhada. O cidadão paga por um serviço, mas também precisa colaborar para que ele funcione de forma eficiente”, destaca.
Um dos maiores problemas observados pela coordenadora é a ineficiência na coleta seletiva: mesmo com caminhões específicos passando pelos bairros, muitos moradores continuam misturando todo o lixo.
“O poder público oferece a coleta seletiva, mas o cidadão ainda não separa o resíduo. O resultado é um aumento do volume de lixo nos aterros, mais emissão de gases e desperdício de recursos”, alerta.
Segundo ela, essa atitude também pressiona as tarifas públicas. “Se o sistema precisa de mais caminhões, mais aterros e mais correções, isso reflete na conta de todos. É um ciclo que começa dentro de casa”.
Projetos para 2025: formação de multiplicadores e apoio à coleta seletiva - Para o próximo ano, dois grandes projetos devem ampliar o alcance da educação ambiental da AGEMS. O primeiro é a expansão da implantação de PEVs em escolas do interior do Estado, fortalecendo a coleta seletiva e a conscientização desde cedo.
O segundo é um curso de formação para multiplicadores em educação ambiental com foco no saneamento básico, desenvolvido em parceria com a FADEB (Fundo de Apoio ao Desenvolvimento da Educação Básica). A ideia é capacitar professores, agentes públicos e líderes comunitários para que eles próprios possam replicar as ações em suas regiões.
“É assim que vamos transformar a cultura ambiental em Mato Grosso do Sul: com informação, prática e parceria. E isso começa com a escola, mas não termina nela”, conclui Nauristela. Confira a entrevista na íntegra:
